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Conselhos aos Idosos
LivrosAutor: Ellen White
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Os links abaixo estão disponiveis com permissão do Ellen G. White Estate em Silver Spring, Maryland, EUA.

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A fé de Abraão

Era Abraão homem idoso quando recebeu de Deus a impressionante ordem de oferecer seu filho Isaque como oferta queimada. Abraão, mesmo em sua geração, era considerado velho. Desvanecera-se-lhe o ardor da juventude. Já não lhe era fácil suportar dificuldades e enfrentar perigos. No vigor da mocidade o homem enfrenta a tempestade com altiva consciência de força, e ergue-se acima de desencorajamentos que em sua vida posterior lhe fariam o coração desfalecer, quando os seus passos vacilam rumo à sepultura.

Mas em Sua providência Deus reservou para Abraão sua última e mais aflitiva prova até o peso dos anos o oprimir e ele almejar por descanso da ansiedade e labuta. O Senhor lhe falou, dizendo: "Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem amas", "e oferece-o ali em holocausto." Gênesis 22:2. O coração do ancião paralisou-se de terror. A perda desse filho por doença teria sido um golpe duro àquele pai amoroso; ter-lhe-ia curvado a fronte embranquecida de tristeza. Mas agora eis que se lhe ordena derramar com as próprias mãos o precioso sangue daquele filho. Parecia-lhe terrível impossibilidade.

Entretanto, Deus falara, e Sua palavra tinha de ser obedecida. Abraão era avançado em anos, mas isto não o desculpou de cumprir o dever. Agarrou o bordão da fé, e em muda agonia tomou pela mão o filho, belo na rosada saúde da juventude, e saiu a obedecer à palavra

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de Deus. O grande e idoso patriarca era humano; suas paixões e laços afetivos eram como os nossos, e ele amava o rapaz, que era o consolo de sua velhice, e a quem fora dada a promessa do Senhor.

Mas Abraão não se deteve a duvidar de como as promessas de Deus poderiam cumprir-se, uma vez morto Isaque. Não parou a arrazoar com o sofrido coração, mas executou a ordem divina ao pé da letra, até que, exatamente quando o cutelo estava para ser mergulhado nas trêmulas carnes do filho, veio a ordem: "Não estendas a tua mão sobre o moço", "porquanto agora sei que temes a Deus e não Me negaste o teu filho, o teu único." Gênesis 22:12.

Esse grande ato de fé acha-se traçado nas páginas da história sagrada para brilhar no mundo como exemplo nobre até ao fim do tempo. Abraão não argumentou que sua idade avançada o eximisse de obedecer a Deus. Não disse: "Tenho os cabelos brancos, foi-se-me o vigor da varonilidade; quem me consolará no final da minha vida, quando Isaque não mais existir? Como pode um pai idoso derramar o sangue de um filho único?" Não; Deus falara, e o homem devia obedecer sem questionar, nem murmurar, ou desfalecer pelo caminho.

Precisamos da fé de Abraão em nossas igrejas hoje, a fim de iluminar as trevas que ao redor delas se acumulam, excluindo a suave luz do amor divino e atrofiando o crescimento espiritual. A idade jamais nos desculpará de obedecermos a Deus. Deve nossa fé ser prolífera de boas obras, pois "a fé sem obras é morta". Tiago 2:26. Todo dever cumprido, todo sacrifício feito em nome de Jesus, traz

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uma recompensa excelente. No próprio ato de cumprir o dever, Deus fala e dá Sua bênção. Mas Ele requer de nós uma inteira consagração de nossas faculdades. O espírito e o coração, o ser todo, precisam ser dados a Ele, ou do contrário não atingiremos a norma de cristãos verdadeiros. — Testemunhos Para a Igreja 4:144, 145.

A oração de Davi

Foi-me mostrado Davi rogando ao Senhor que o não abandonasse quando fosse idoso, e o que foi que lhe inspirou essa fervorosa oração. Ele viu que a maioria das pessoas idosas que o rodeavam não eram felizes, e que os traços lamentáveis de caráter aumentavam especialmente com a idade. Se as pessoas eram naturalmente mesquinhas e cobiçosas, isto se acentuava desagradavelmente em sua velhice. Se eram ciumentas, irritáveis e impacientes, tornavam-se mais ainda quando idosas.

Davi afligia-se ao ver que reis e nobres que pareciam ter o temor de Deus diante de si enquanto se achavam no vigor da varonilidade, tornavam-se ciumentos de seus melhores amigos e parentes, quando se tornavam mais idosos. Receavam continuamente que houvesse motivos egoístas nas manifestações de interesse dos amigos para com eles. Davam ouvidos às sugestões e conselhos enganosos de estranhos com relação àqueles em quem deviam confiar. Seus não refreados ciúmes inflamavam-se por vezes, porque nem todos concordavam com seu juízo falível.

Terrível era sua cobiça. Pensavam muitas vezes que os próprios filhos e parentes desejavam que eles morressem a fim de tomar-lhes o lugar e possuir-lhes as riquezas, e receber as homenagens que

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lhes haviam sido prestadas. E alguns eram de tal modo controlados pelos ciúmes e sentimentos de cobiça, que destruíam os próprios filhos.

Davi observava que, se bem que a vida de alguns houvesse sido justa enquanto se achavam no vigor dos anos, eles pareceram perder o domínio de si mesmos ao sobrevir-lhes a velhice. Satanás penetrou-lhes no espírito e os dirigiu, tornando-os desassossegados e descontentes. Viu Davi que muitos dos idosos pareciam abandonados por Deus, e se expunham ao ridículo e ao insulto por parte de seus inimigos. Davi sentia-se profundamente abalado; ficou aflito ao pensar nos anos futuros, quando estivesse idoso. Temia que Deus o deixasse, e que ele fosse tão infeliz como outros idosos cuja conduta ele observara, e exposto à desonra dos inimigos do Senhor. Com o coração opresso por isto, ele orou fervorosamente: "Não me rejeites no tempo da velhice; não me desampares, quando se for acabando a minha força." "Ensinaste-me, ó Deus, desde a minha mocidade; e até aqui tenho anunciado as Tuas maravilhas. Agora também, quando estou velho e de cabelos brancos, não me desampares, ó Deus, até que tenha anunciado a Tua força a esta geração, e o Teu poder a todos os vindouros." Salmos 71:9, 17, 18. Davi sentia a necessidade de guardar-se contra os males que acompanham a velhice. — Testemunhos Para a Igreja 1:422, 423.

Davi planejava com antecedência

Arrumando seus negócios, Davi deu um bom exemplo para todos os que estão avançando em idade: liquidar seus problemas enquanto forem capazes de fazê-lo para que, quando se aproximarem

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da morte e suas faculdades mentais enfraquecerem, coisa mundana alguma desvie sua mente de Deus. — The S.D.A. Bible Commentary 2:1025.

Como Pedro enfrentou a morte

Desde sua reintegração depois de haver negado a Cristo, Pedro enfrentara denodadamente o perigo, e mostrara nobre coragem em pregar um Salvador crucificado, ressuscitado e assunto ao Céu. Agora em sua cela, recordava as palavras que Cristo havia falado a seu respeito: "Na verdade, na verdade te digo que, quando eras mais moço, te cingias a ti mesmo, e andavas por onde querias; mas, quando já fores velho, estenderás as tuas mãos; e outro te cingirá, e te levará para onde tu não queiras." João 21:18. Assim fizera Jesus conhecer ao discípulo a própria maneira de sua morte, e predissera mesmo o estender de suas mãos sobre a cruz.

Pedro, como um estrangeiro judeu, foi condenado a ser açoitado e crucificado. Na perspectiva desta terrível morte, o apóstolo lembrou seu grande pecado em haver negado a Jesus na hora de Seu julgamento. Não preparado então para reconhecer a cruz, considerava agora uma alegria render a vida pelo evangelho, sentindo tão-somente que, para ele que negara seu Senhor, morrer da mesma maneira por que seu Mestre morrera, lhe era uma honra demasiado grande. Pedro havia-se arrependido sinceramente daquele pecado, e tinha sido perdoado por Cristo, o que se revelava pela alta missão a ele dada para alimentar as ovelhas e cordeiros do rebanho. Ele, porém, nunca pôde perdoar a si mesmo. Nem mesmo o pensamento das agonias da última e terrível cena puderam diminuir a amargura de sua tristeza e arrependimento. Como último favor, rogou aos seus

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algozes que fosse pregado na cruz de cabeça para baixo. O pedido foi atendido, e desta maneira morreu o grande apóstolo Pedro. — The Review and Herald, 26 de Setembro de 1912. Ver também Atos dos Apóstolos, 537, 538.

O idoso apóstolo em Patmos

Mais de meio século havia passado desde a organização da igreja cristã. Durante esse tempo a mensagem do evangelho tinha sofrido constante oposição. Seus inimigos jamais afrouxaram os esforços, e afinal alcançaram êxito em arregimentar o poder do imperador romano contra os cristãos.

Na terrível perseguição que se seguiu, o apóstolo João muito fez para confirmar e fortalecer a fé dos crentes. Ele deu um testemunho que seus adversários não puderam controverter, e que ajudou seus irmãos a enfrentar com lealdade e coragem as provas que lhes sobrevieram. Quando a fé dos cristãos lhes parecia vacilar sob a feroz oposição que eram forçados a enfrentar, o velho e provado servo de Jesus lhes repetia com poder e eloquência a história do Salvador crucificado e ressurgido. Mantinha firmemente a fé, e de seus lábios brotava sempre a mesma alegre mensagem: "O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida... o que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos." 1 João 1:1-3.

João alcançou avançada idade. Testemunhou a destruição de Jerusalém e a ruína do majestoso templo. Último sobrevivente dos discípulos que haviam estado intimamente ligados com o Salvador,

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sua mensagem teve grande influência em estabelecer o fato de que Jesus é o Messias, o Redentor do mundo. Ninguém poderia duvidar de sua sinceridade, e através de seus ensinos muitos foram levados a deixar a incredulidade.

Os príncipes dos judeus encheram-se de ódio atroz contra João por sua inamovível fidelidade à causa de Cristo. Declararam que de nada valeriam seus esforços contra os cristãos enquanto o testemunho de João soasse aos ouvidos do povo. Para que os milagres e ensinos de Cristo fossem esquecidos, a voz da ousada testemunha teria de ser silenciada.

João foi por conseguinte convocado a Roma para ser julgado por sua fé. Aqui perante as autoridades, as doutrinas do apóstolo foram deturpadas. Falsas testemunhas acusaram-no de ensinar sediciosas heresias. Por essas acusações esperavam seus inimigos levar em breve o discípulo à morte.

João respondeu por si de maneira clara e convincente, e com tal simplicidade e candura que suas palavras tiveram efeito poderoso. Seus ouvintes ficaram atônitos com sua sabedoria e eloqüência. Porém, quanto mais convincente seu testemunho, mais profundo era o ódio de seus opositores. O imperador Domiciano estava cheio de ira. Não podia contrafazer as razões do fiel advogado de Cristo, nem disputar o poder que lhe acompanhava a exposição da verdade; determinou, contudo, fazer silenciar sua voz.

João foi lançado dentro de um caldeirão de óleo fervente; mas o Senhor preservou a vida de Seu fiel servo, da mesma maneira como preservara a dos três hebreus na fornalha ardente. Ao serem pronunciadas as palavras: "Assim pereçam todos os que crêem

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nesse enganador, Jesus Cristo de Nazaré", João declarou: "Meu Mestre Se submeteu pacientemente a tudo quanto Satanás e seus anjos puderam inventar para humilhá-Lo e torturá-Lo. Ele deu a vida para salvar o mundo. Considero uma honra o ser-me permitido sofrer por Seu amor. Sou um homem pecador e fraco. Cristo era santo, inocente, incontaminado. Não pecou nem se achou engano em Sua boca." Estas palavras exerceram sua influência, e João foi retirado do caldeirão pelos mesmos homens que ali o haviam lançado.

De novo a mão da perseguição caiu pesadamente sobre o apóstolo. Por decreto do imperador foi João banido para a ilha de Patmos, condenado "por causa da Palavra de Deus, e pelo testemunho de Jesus Cristo". Apocalipse 1:9. Aqui, pensavam seus inimigos, sua influência não mais seria sentida, e ele morreria, afinal, pelas privações e sofrimentos.

Pela aparência externa, os inimigos da verdade estavam triunfando, mas, sem ser vista, a mão de Deus estava se movendo na escuridão. Deus permitiu que Seu fiel servo fosse posto onde Cristo lhe pudesse dar a mais maravilhosa revelação de Si mesmo e da divina verdade para o esclarecimento das igrejas. Exilando João, os inimigos da verdade tiveram a esperança de silenciar para sempre a voz do fiel discípulo; mas em Patmos ele recebeu a mensagem, cuja influência seus inimigos não poderiam destruir, e que deveria continuar a fortalecer a igreja até o fim do tempo. Embora não fossem eximidos da responsabilidade dos seus maus atos, os que exilaram João serviram de instrumento nas mãos de Deus para levar avante Seu propósito; o exato esforço para extinguir a luz colocou a verdade num pedestal ousado.

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Patmos, uma ilha árida e rochosa no mar Egeu, havia sido escolhida pelo governo romano para banimento de criminosos; mas para o servo de Deus sua solitária habitação tornou-se a porta do Céu. Aqui, afastado das cansativas cenas da vida, e dos ativos labores dos primeiros anos, ele teve a companhia de Deus, de Cristo e dos anjos celestiais, e deles recebeu instrução para a igreja por todo o tempo futuro. Os eventos que teriam lugar nas cenas finais da história deste mundo foram esboçados perante ele; e ali escreveu as visões recebidas de Deus. Quando sua voz não mais podia testificar dAquele a quem amara e servira, as mensagens que foram dadas nessa costa desolada deviam avançar como uma lâmpada que arde, declarando o seguro propósito do Senhor concernente a cada nação da Terra.

Entre as rochas e recifes de Patmos, João manteve comunhão com seu Criador. Recapitulou sua vida passada, e ao pensamento das bênçãos que havia recebido, a paz encheu-lhe o coração. Ele vivera a vida de um cristão, e pudera dizer com fé: "Sabemos que passamos da morte para a vida." 1 João 3:14. Não assim o imperador que o banira. Este olharia para trás e encontraria apenas campos de batalha e carnificina, lares desolados, lágrimas de órfãos e viúvas, o fruto de seu ambicioso desejo de proeminência.

Em seu isolado lar, João estava habilitado a estudar mais intimamente do que nunca as manifestações do poder divino como reveladas no livro da natureza e nas páginas da Inspiração. Era para ele um deleite meditar sobre a obra da criação, e adorar o divino Arquiteto. Em anos anteriores seus olhos tinham-se deleitado

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na contemplação dos morros cobertos de florestas, dos verdes vales e frutíferas planícies; e nas belezas da natureza sempre se deleitara em considerar a sabedoria e habilidade do Criador. Agora estava circundado por cenas que poderiam parecer a muitos melancólicas e desinteressantes; mas para João representavam outra coisa. Embora o cenário que o rodeava fosse desolado e árido, o céu azul que o cobria era tão luminoso e belo como o céu de sua amada Jerusalém. Nas rochas rudes, e ermos, nos mistérios dos abismos, nas glórias do firmamento lia ele importantes lições. Tudo trazia mensagem do poder e glória de Deus.

Em tudo ao seu redor via o apóstolo testemunhas do dilúvio que inundara a Terra porque seus habitantes se aventuraram a transgredir a lei de Deus. As rochas que foram lançadas da Terra e do grande abismo pelo irromper das águas, traziam-lhe vividamente ao espírito os terrores daquele terrível derramamento da ira de Deus. Na voz de muitas águas — abismo chamando abismo — o profeta ouvia a voz do Criador. O mar, açoitado pela fúria de impiedosos ventos, representava para ele a ira de um Deus ofendido. As poderosas ondas, em sua terrível comoção, mantidas em seus limites por mão invisível, falavam do controle de um poder infinito. E em contraste considerava a fraqueza e futilidade dos mortais que, embora vermes do pó, gloriam-se em sua suposta sabedoria e força, e colocam o coração contra o Governador do Universo, como se Deus fosse igual a eles. As rochas lhe lembravam Cristo, a Rocha de sua fortaleza, em cujo abrigo podia ele refugiar-se sem temor. Do exilado apóstolo sobre o rochedo de Patmos subiam para Deus os mais ardentes anseios de

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alma, as mais ferventes orações. — The Review and Herald, 5 de Setembro de 1912. Ver também Atos dos Apóstolos, 568-572.

O melhor tempo da vida de João

A história de João fornece uma vívida ilustração de como Deus pode usar obreiros idosos. Quando João foi exilado para a ilha de Patmos, havia muitos que o consideravam como tendo passado do tempo de serviço, um caniço velho e quebrado, pronto para cair a qualquer momento. Mas o Senhor achou próprio usá-lo ainda. Embora banido das cenas de seus primeiros labores, ele não cessou de dar testemunho da verdade. Mesmo em Patmos fez amigos e conversos. Sua mensagem era de alegria, proclamava um Salvador ressurreto, que no Céu intercedia por Seu povo até que pudesse retornar e tomá-lo para Si mesmo. E foi depois de haver João encanecido na obra de seu Senhor que ele recebeu do Céu mais comunicações que durante todos os anos anteriores de sua vida. — Atos dos Apóstolos, 573, 574.

Em sua idade avançada, João revelou a vida de Cristo na sua vida. Viveu até chegar aos quase cem anos, e constantemente repetia a história do Salvador crucificado e ressurreto. Os cristãos sofreram perseguições, e muitas vezes os mais jovens na experiência estiveram em perigo de perder sua firmeza em Cristo, mas o velho e experiente servo de Jesus manteve firmemente sua fé. — The S.D.A. Bible Commentary 7:947.

Conforto advindo das experiências de personagens Bíblicos

Na experiência do apóstolo João sob a perseguição, há para o cristão uma lição de maravilhosa fortaleza e conforto. Deus não impede a

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trama dos ímpios, mas faz que suas armadilhas contribuam para o bem daqueles que em prova e conflito mantêm sua fé e lealdade. Não raro o obreiro do evangelho efetua sua obra em meio a tempestades de perseguições, oposição atroz e acusações injustas. Em tais ocasiões lembre-se ele de que a experiência por alcançar na fornalha da prova e da aflição paga todas as penas de seu preço. Assim traz Deus Seus filhos próximo de Si, para que lhes possa mostrar Sua fortaleza e a fraqueza deles. Ele os ensina a arrimarem-se nEle. Dessa forma prepara-os para enfrentar as emergências, ocupar posições de responsabilidades e realizar o grande propósito para o que lhes foram dadas as faculdades.

Em todas as épocas as testemunhas designadas por Deus se têm exposto às perseguições e ao desprezo por amor à verdade. José foi caluniado e perseguido por haver preservado sua virtude e integridade. Davi, o mensageiro escolhido de Deus, foi caçado como um animal feroz por seus inimigos. Daniel foi lançado na cova dos leões por ser leal ao seu concerto com o Céu. Jó foi destituído de suas posses terrestres e ferido no corpo de tal maneira que o desprezaram os próprios parentes e amigos; contudo manteve sua integridade. Jeremias não pôde ser impedido de falar as palavras que Deus lhe ordenara; e seu testemunho de tal maneira enfureceu o rei e os príncipes que o atiraram num poço asqueroso. Estêvão foi apedrejado por haver pregado a Cristo, e Este crucificado. Paulo foi encarcerado, açoitado, apedrejado e finalmente entregue à morte por ter sido fiel mensageiro de Deus aos gentios. E João foi banido para a ilha de Patmos "por causa da Palavra de Deus, e pelo testemunho de Jesus Cristo". Apocalipse 1:9.

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Esses exemplos de humana firmeza dão testemunho da fidelidade das promessas de Deus — de Sua permanente presença e mantenedora graça. Testificam do poder da fé para enfrentar os poderes do mundo. É obra de fé repousar em Deus na hora mais escura, sentir, embora dolorosamente provado e sacudido pela tempestade, que nosso Pai está ao leme. Somente os olhos da fé podem ver para além das coisas temporais e apreciar com acerto o valor das riquezas eternas. — The Review and Herald, 12 Setembro de 1912. Ver também Atos dos Apóstolos, 574-576.

A vida apóstata de Salomão

A vida de Salomão está cheia de advertências, não só para os jovens, mas também para os maduros em anos e para os idosos, para os que estão descendo a colina da vida e se defrontando com o sol do ocidente. ...

Quando Salomão deveria ter sido resistente como um carvalho no seu caráter, da sua firmeza, caiu sob o poder da tentação. Quando sua força deveria ter sido a mais firme, demonstrou-se o mais fraco dos homens.

De exemplos como este, deveríamos aprender que vigilância e oração são a única segurança tanto para jovens como para velhos. Satanás vai moldar as circunstâncias de tal maneira que, a menos que sejamos mantidos pelo divino poder, imperceptivelmente elas irão solapando as fortificações da alma. Em cada passo, devemos perguntar: "É este o caminho do Senhor?"

Enquanto durar a vida, há necessidade de guardar as afeições e as paixões com um firme propósito. Há corrupção interior e há

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tentações exteriores; e, onde a obra de Deus deve avançar, Satanás planeja de ta maneira as circunstâncias que as tentações vêem de forma irresistível sobre a alma. Não podemos nos considerar seguros um momento sequer, a menos que confiemos em Deus e escondamos a vida com Cristo em Deus.

Não obstante as admoestações contidas na Palavra de Deus e nos testemunhos do Seu Espírito, muitos fecham seus olhos ao perigo e andam pelos seus próprios caminhos, enfatuados, iludidos por Satanás até caírem nas suas tentações. Depois, abandonam-se ao desespero. Essa foi a história de Salomão; porém, mesmo para ele houve ajuda. Arrependeu-se realmente da sua vida de pecados e encontrou auxílio.

Ninguém se arrisque no pecado como ele o fez, esperando que também possa se recuperar. Pode-se condescender com o pecado apenas com o perigo de uma perda infinita. Contudo, ninguém que caiu precisa entregar-se ao desespero. Homens idosos, uma vez honrados por Deus, podem ter maculado a alma, sacrificando a virtude no altar da luxúria, mas existe esperança para eles se se arrependerem, abandonarem o pecado e se voltarem para Deus.

No caso de Salomão, a aplicação errada de talentos nobres serve de exemplo para todos. ... Sua história permanece como um sinal de advertência para que jovens e velhos aprendam o resultado certo dos desvios dos caminhos do Senhor.

Salomão agiu em oposição direta à vontade do Senhor. Deus o fez depositário das verdades sagradas, mas ele se demonstrou infiel nesta santa confiança. Más relações corrompem bons costumes. Fez alianças políticas com reinos pagãos, especialmente com o Egito e a Fenícia. Um passo errado leva a outro. Através das relações

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que manteve com esses povos, as práticas pagãs deles se lhe tornaram menos abomináveis e, finalmente, os costumes sensuais e as mais tenebrosas adorações foram levados para a Palestina. As apuradas sensibilidades de Salomão ficaram embotadas e sua consciência, chamuscada. Tornou-se fraco e vacilante. A justiça dos primeiros anos do seu reinado deu lugar à tirania. Outrora guardião do seu povo, transformou-se em déspota. Para sustentar suas extravagâncias e devassidão, impôs esmagadores impostos aos pobres.

Aquele que na dedicação do Templo, dissera ao seu povo: "Seja perfeito o vosso coração para com o Senhor, nosso Deus" (1 Reis 8:61), tornou-se, ele mesmo, um ofensor. Negou suas próprias palavras no coração e na vida. Confundiu licenciosidade com liberdade. Experimentou, mas a que custo, unir a luz com as trevas, Cristo com Belial, pureza com impureza, o bem com o mal. Devemos dar atenção à advertência e evitar a primeira aproximação dos pecados que derrotaram aquele que foi chamado o mais sábio dos homens? — Carta 8b, 1891.

A fraqueza de Salomão, um sinal de advertência

De Salomão, dizem os registros inspirados: "Suas mulheres lhe perverteram o coração para seguir outros deuses; e o seu coração não era de todo fiel para com o Senhor, seu Deus". 1 Reis 11:4.

Esse não é um assunto para ser tratado com sorrisos. O coração que ama Jesus não deseja as afeições ilícitas de outro. Toda necessidade é suprida em Cristo. Essa afeição superficial é do mesmo caráter daquele prazer exaltado que Satanás prometeu para Eva. É cobiçar o que Deus proibiu. Quando for tarde demais, centenas podem

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advertir outros a não se arriscarem sobre o precipício. Intelecto, posição e riqueza não podem nunca, nunca, tomar o lugar das qualidades morais. Mais do que pepitas do ouro de Ofir, o Senhor aprecia as mãos limpas, o coração puro e nobre, e a sincera devoção a Deus.

A má influência tem um poder perpetuador. Gostaria de pôr esse assunto diante do povo que guarda os mandamentos de Deus tal como ele me foi apresentado. Que a triste lembrança da apostasia de Salomão advirta toda alma para que evite o mesmo precipício. Sua fraqueza e pecado são transmitidos de geração em geração. O maior rei que já empunhou um cetro, de quem se disse que era o amado de Deus, por meio de afeições deslocadas ficou contaminado e lamentavelmente se afastou do seu Deus. O mais poderoso governante da Terra falhou no governo das suas próprias paixões. Salomão pode ter sido salvo "como que do fogo", mas seu arrependimento não pôde apagar aqueles lugares altos nem demolir aquelas pedras que permaneceram como evidências dos seus crimes. Desonrou a Deus, preferindo ser controlado pela luxúria a ser participante da natureza divina.

Que legado a vida de Salomão confiou aos que querem usar seu exemplo para encobrir suas próprias ações desprezíveis. Transmitimos uma herança ou para o bem, ou para o mal. Serão nossa vida e nosso exemplo uma bênção ou uma maldição? Ao contemplar nossas sepulturas, dirá alguém: "Ele me arruinou" ou "Ele me salvou"? ...

A lição que pode ser aprendida da vida de Salomão tem um significado especial para a vida dos idosos, daqueles que não mais sobem as montanhas, mas as descem no rumo do sol poente. Podemos

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esperar ver defeitos no caráter dos jovens que não são controlados pelo amor e pela fé em Jesus Cristo; vemos jovens balançando entre o certo e o errado, vacilando entre princípios fixos e a quase irresistível corrente do mal que está levando seus pés para a ruína; mas dos maduros na idade esperamos melhores coisas. Esperamos que seu caráter seja firme, seus princípios enraizados e que eles fiquem fora do perigo da poluição.

O caso de Salomão está diante de nós como um sinal de advertência. Quando você, peregrino idoso que combateu as batalhas da vida, pensar que irá resistir, cuide para que não caia. Como Salomão, naturalmente ousado, firme e determinado, foi fraco e de caráter vacilante, sacudido pelo vento qual um caniço, sob o poder da tentação! Ele, que era um velho e nodoso cedro do Líbano, um resistente carvalho de Basã, foi dobrado pelas rajadas da tentação! Que lição para todos os que quiserem salvar a alma: vigiar e orar continuamente! Que advertência para conservar a graça de Cristo no coração e para combater a corrupção interna e as tentações externas! — The S.D.A. Bible Commentary 2:1031, 1032.

Celebridade mundana versus integridade divina

Tem-se dito dos homens de cabelos brancos que não há perigo deles recuarem do posto do dever, mas, no caso de Salomão, sabemos que, quando ficou velho, perdeu sua ligação com Deus. E por quê? — Porque correu atrás de fama, honra e riquezas deste mundo;

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porque tomou esposas dentre as nações idólatras e porque aliou-se com essas nações. É verdade que, por meio dessas alianças, trouxe ouro de Ofir e prata de Tarsis, mas foi a expensas da virtude, de princípios e da integridade de caráter.

Através de toda a história da nação judaica, vemos que o povo de Deus, fossem velhos ou jovens, devia conservar-se diferente e separado das nações idólatras que o rodeavam. Deus tem um povo hoje, e é necessário que agora, como antigamente, este Seu povo seja diferente e separado, puro e imaculado do mundo, do seu espírito e da sua influência porque este estabelece padrões opostos aos da verdade e da justiça. — The Review and Herald, 4 de Janeiro de 1887.

Influência para o bem e para o mal

O arrependimento de Salomão foi sincero; mas o dano que o exemplo de suas más práticas produzira não podia ser desfeito. Durante sua apostasia, houve no reino homens que permaneceram fiéis a seu encargo, mantendo sua pureza e lealdade. Muitos, porém, foram levados a se transviarem; e as forças do mal postas em operação pela introdução da idolatria e práticas mundanas não poderiam facilmente ser detidas pelo penitente rei. Sua influência para o bem fora grandemente enfraquecida. Muitos hesitavam em depositar inteira confiança em sua guia. Embora o rei confessasse o seu pecado, e escrevesse, para benefício das futuras gerações o registro de sua estultícia e arrependimento, não poderia ele jamais esperar destruir completamente a danosa influência de suas obras más. Encorajados por sua apostasia, muitos continuaram a praticar o mal, e

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o mal somente. E na conduta descendente de muitos dos príncipes que o seguiram, pode ser assinalada a má influência que levou à prostituição das faculdades que Deus lhe dera. ...

Entre as muitas lições ensinadas pela vida de Salomão, nenhuma é mais fortemente salientada que o poder da influência para o bem ou para o mal. Restrita como possa ser nossa esfera de ação, ainda exercemos uma influência para bem-estar ou aflição. Além de nosso conhecimento ou controle, ela atua sobre outros na forma de bênção ou maldição. Pode estar carregada com a melancolia do descontentamento e egoísmo, ou envenenada com a infecção mortal de algum pecado acariciado; ou pode estar saturada com o vivificante poder da fé, coragem e esperança, e dulcificada com a fragrância do amor. Mas ela será poderosa, sem dúvida, para o bem ou para o mal. — Profetas e Reis, 84, 85.

Disponível também pela CPB