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Vida e Ensinos
Livros 227
Autor: Ellen White
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Os links abaixo estão disponiveis com permissão do Ellen G. White Estate em Silver Spring, Maryland, EUA.

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Apêndices
Capítulo: 040 041
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O dom de profecia

No princípio, quando o homem foi criado e posto no jardim do Éden, podia falar face a face com seu Criador e com os anjos. Com a entrada do pecado, esse privilégio lhe foi retirado. O homem ficou sujeito à morte, e incapaz de olhar para a maravilhosa glória de Deus ou viver em Sua presença.

Mas, conquanto o homem decaído não mais pudesse falar diretamente com Deus, nosso amante Pai celestial sempre tem mantido comunicação com a família humana. Mediante o ministério dos santos anjos, Ele proveu para os homens e mulheres proteção contra as influências do mal, e auxílio para viverem de acordo com Sua vontade. E, por meio do poder de Seu Espírito Santo, Deus tem falado ao coração dos homens, e possibilitado, mesmo ao mais pecador e ignorante, achar o caminho que conduz à maneira exata de agir e à vida eterna.

Deus tem também falado à raça decaída por meio de escolhidos instrumentos humanos, a quem, mediante visões e sonhos, comunicou o conhecimento de Seu propósito. Esses mensageiros de Sua vontade têm sido conhecidos como homens santos, ou profetas, separados pelo próprio Senhor para a obra especial de receber e comunicar à humanidade a verdade do Céu. "Se entre vós houver profeta", declara Deus, "Eu, o Senhor, em visão a Ele Me farei conhecer, ou em sonhos falarei com Ele." Números 12:6.

A Escritura Sagrada é uma compilação dos escritos de homens singularmente honrados por Deus. Ao povo que vivia em

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seu tempo esses homens transmitiram mensagens divinas; ensinaram verdades espirituais e deram conselhos e advertências à Igreja para tempos futuros. Aos profetas "foi revelado que, não para si mesmos, mas para nós, eles ministravam estas coisas que agora vos foram anunciadas por aqueles que, ...vos pregaram o evangelho". 1 Pedro 1:12.

Na era patriarcal

O dom de profecia não se limita a certa época. Encontram-se, no relato inspirado, exemplos de sua manifestação desde os tempos primitivos. Enoque, o sétimo depois de Adão, foi profeta. Olhando através dos séculos, viu em visão profética a vinda do Senhor e a execução do juízo final sobre os ímpios. Judas 14-15. O Senhor apareceu em visão a Abraão, Isaque e Jacó, predizendo as bênçãos que concederia à sua posteridade. Com eles renovou Seu concerto, fazendo-lhes ver de antemão a recompensa final dos justos, e contemplar as glórias da cidade celestial, cujo Construtor e Artífice é Deus. Hebreus 11:10.

Moisés, escolhido por Deus para guiar os israelitas, do cativeiro do Egito à terra de Canaã, foi um poderoso profeta. Predizendo a vinda do Messias, disse: "O Senhor teu Deus te despertará um Profeta do meio de ti, de teus irmãos, como eu; a Ele ouvireis." Deuteronômio 18:15. Deus deu muitas revelações a este homem fiel; e, conquanto a glória divina não lhe fosse inteiramente revelada, a Palavra declara que Deus falava com ele "cara a cara". Deuteronômio 34:10.

Depois de os filhos de Israel se estabelecerem em Canaã, a influência dos idólatras, de que se achavam cercados, desviou-os

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do verdadeiro Deus para a adoração do Sol, da Lua, das estrelas, bem como para o culto das imagens de escultura, feitas de ouro, prata, madeira e pedra. Assim transgrediram os mandamentos do Céu que haviam sido dados para seu próprio bem. O amante coração de Deus sofreu ao ver a nação escolhida transviada de seu Criador e Benfeitor, e seguindo procedimento que a levaria à ruína.

Por entre a apostasia geral, alguns havia que mantinham aliança com Jeová; e dentre estes Deus escolhia profetas a quem comissionava para exortar o povo ao arrependimento e advertir dos males que seu proceder certamente lhes acarretaria. "O Senhor, Deus de seus pais, lhes enviou a Sua palavra pelos Seus mensageiros, madrugando e enviando-lhos; porque Se compadeceu do Seu povo e da Sua habitação." 2 Crônicas 36:15.

Entre os profetas de Israel, salientaram-se Samuel, Elias, Eliseu, Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel. Com palavras veementes exortavam o povo a que se apartassem de seus maus caminhos, assegurando-lhe que o Senhor os receberia com indulgência e abençoaria, e os curaria de seu estado transviado. Alguns dos escritos desses profetas têm aplicação especial para o tempo em que vivemos. Escreveram de coisas que deveriam acontecer "nos últimos dias" (Isaías 2:2), ou no tempo do fim. Daniel 12:4.

No primeiro advento de Cristo

O último dos profetas do Antigo Testamento foi Malaquias. Durante o período do formalismo que precedeu o aparecimento de Cristo, tanto quanto o indique qualquer relato existente, não houve manifestação do dom de profecia. Foram, porém, enviados profetas para preparar o caminho para o Messias.

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Zacarias, pai de João Batista, "foi cheio do Espírito Santo, e profetizou". Lucas 1:67. Simeão, homem "justo e temente a Deus", que "esperando a consolação de Israel", veio pelo Espírito ao templo e profetizou, de Jesus, que seria uma "luz para alumiar as nações, e para glória de Teu povo Israel". Ana, a profetisa, "falava dEle a todos os que esperavam a redenção em Jerusalém". Lucas 2:25, 32, 38. E não houve em época alguma profeta maior do que João Batista, escolhido por Deus para proclamar a Israel o advento do "Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo". João 1:29.

Nos dias dos apóstolos

O princípio da era cristã foi assinalado pelo derramamento do Espírito Santo e pela manifestação dos vários dons espirituais; e entre eles estava o dom de profecia. No livro dos Atos lemos os discursos inspirados de Pedro e Estêvão, de outros cristãos da igreja primitiva, bem como das quatro filhas de Filipe, "donzelas, que profetizavam", e de um profeta chamado Ágabo. Atos 21:9.

O apóstolo Paulo teve visões da glória do Céu. 2 Coríntios 12:1-7. No duodécimo capítulo de 1 Coríntios ele dedica extensa consideração aos dons do Espírito que foram outorgados, não para uma época somente, mas "até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo". Efésios 4:13. "A uns pôs Deus na Igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro doutores, depois milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas." 1 Coríntios 12:28.

João, o último sobrevivente dos doze apóstolos de Jesus,

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era profeta. No último livro da Bíblia, ele fala das visões que lhe foram dadas quando estava desterrado na ilha de Patmos. Registrando essas visões, declara serem elas "a revelação de Jesus Cristo, a qual Deus lhe deu, para mostrar aos Seus servos as coisas que brevemente devem acontecer"; e diz que Cristo "as enviou, e as notificou à João Seu servo; o qual testificou da Palavra de Deus, e do testemunho de Jesus Cristo, e de tudo que tem visto". Apocalipse 1:1-2.

Desaparecimento durante a grande apostasia

As Escrituras predizem a grande apostasia, que mesmo nos dias dos apóstolos começara a manifestar-se entre certos falsos irmãos da igreja, e finalmente deveria culminar na manifestação do "homem do pecado, o filho da perdição", de quem Paulo escreveu aos Tessalonicenses. 2 Tessalonicenses 2:1-7.

Em cumprimento desta predição, contam-nos os relatos históricos que, seguindo-se à morte do último dos apóstolos de Jesus, alguns membros da igreja cristã começaram a afastar-se da singeleza da verdade ensinada por Cristo; e pouco a pouco foram levados a unir-se com o mundo nas práticas pagãs.

Passando-se os anos, e crescendo a igreja em número de adeptos e em popularidade, houve muitos que se tornaram cada vez menos estritos em sua obediência ao ensino da Bíblia, até que finalmente no quinto e sexto séculos depois de Cristo, a maior parte dos que professavam ser cristãos não viviam realmente em conformidade com os ensinos de Cristo. Durante muitos séculos, dali em diante, predominou um forma apóstata de cristianismo. A verdade foi suprimida e perdida de vista, e prevaleceu a ignorância.

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A esses séculos de apostasia chama a História "Idade Escura", durante a qual se fizeram tentativas para alterar ou rejeitar muitos dos ensinos fundamentais da Bíblia. Em tais circunstâncias, não é para surpreender que naquele tempo, assim como nos séculos que imediatamente precederam o primeiro advento de Cristo, a manifestação do dom de profecia houvesse quase totalmente desaparecido.

Restabelecimento nos últimos dias

As Escrituras, porém, ao mesmo tempo que predizem esta terrível apostasia, também ensinam explicitamente que, pouco antes da segunda vinda de Cristo, muitos serão libertos das trevas do erro e da superstição. Mais uma vez a Terra deve ser iluminada com a glória de Deus. As puras verdades da Bíblia devem resplandecer. E neste tempo de iluminação celeste, assinalando a aproximação do fim dos séculos, deverão novamente manifestar-se na verdadeira igreja os dons do Espírito. "E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, que do Meu Espírito derramarei sobre toda a carne; e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos mancebos terão visões, e os vossos velhos sonharão sonhos; e também do Meu Espírito derramarei sobre os Meus servos e Minhas servas naqueles dias, e profetizarão." Atos 2:17-18.

Em termos claros o profeta João fala dos remanescentes, ou da última igreja, como sendo os que "guardam os mandamentos de Deus, e têm o testemunho de Jesus Cristo". Apocalipse 12:17. Noutro passo dá o mesmo escritor uma definição clara do que ele quer dizer com a expressão "testemunho de Jesus". Quando uma ocasião João pretendia adorar o anjo que lhe aparecera em visão, disse este:

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"Olha não faças tal; sou teu conservo e de teus irmãos, que têm o testemunho de Jesus: adora a Deus." Apocalipse 19:10.

Em idênticas circunstâncias o mesmo anjo disse, como se acha registrado noutro lugar:

"Olha não faças tal; porque eu sou conservo teu e de teus irmãos, os profetas." Apocalipse 22:9.

O pensamento expresso é o mesmo em ambos estes passos. Num deles, entretanto, é dito que os "irmãos" de João têm "o testemunho de Jesus"; no outro esses irmãos são chamados "os profetas".

Portanto, são os profetas que têm o "testemunho de Jesus"; e o anjo que apareceu a João é evidentemente o mensageiro especial que traz instrução para todos os profetas — sem dúvida é o anjo Gabriel, que apareceu a Daniel. Daniel 8:16; 9:21. O mesmo anjo disse mais a João: "o testemunho de Jesus é o espírito de profecia". Apocalipse 19:10.

Comparando a expressão bíblica do "testemunho de Jesus" com a declaração de Apocalipse 12:17, relativa ao "resto ... que guarda os mandamentos de Deus e tem o testemunho de Jesus Cristo", concluímos que, antes da segunda vinda de Cristo, Sua verdadeira igreja guardará seus mandamentos e terá o Espírito de Profecia.

O rápido cumprimento das predições das Escrituras Sagradas relativas aos sinais e acontecimentos que deveriam caracterizar as cenas finais da história da Terra é uma prova evidente de que estamos vivendo agora nos últimos dias. Portanto, deve existir hoje um grupo de cristão que guardam os mandamentos de Deus e tem o testemunho de Jesus Cristo — O Espírito de Profecia. Onde os encontramos?

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Provado pela palavra

Em conseqüência do fanatismo resultante da obra de homens que falsamente se dizem ensinados por Deus, muitas pessoas sensatas olham com grande desconfiança ou mesmo incredulidade para quem pretenda haver recebido revelações divinas. Entretanto, o pesquisador da verdade tanto deve precaver-se contra o engano dos falsos profetas ou ensinadores, como contra sua própria falta em não reconhecer os que são verdadeiros. "Não desprezeis as profecias; examinai tudo. Retende o bem." 1 Tessalonicenses 5:20-21.

De conformidade com esta exortação, cumpre aos crentes em Cristo tomar em sincera consideração as provas da direção divina do atual movimento adventista, bem como a manifestação do dom de profecia ligada a este movimento. Menosprezar a obra do Espírito Santo, manifesta por meio desse dom, é perigoso. Contudo, somos advertidos a acautelar-nos dos "falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores". E a prova é: "Por seus frutos os conhecereis."

Tão impossível é para os homens colher "uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos" como encontrar verdade pura e poder santificador procedendo de um vil impostor. "Toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons. ... Portanto, pelos seus frutos os conhecereis." Mateus 7:15-20.

Os ativos trabalhos de Ellen G. Harmon, conhecida, depois de seu casamento, por Sra. Ellen G. White, abrangeram um período de setenta anos, sessenta dos quais foram passados na América do Norte, e dez na Europa e Australásia.

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Durante esse longo tempo ela foi agraciada com muitas revelações, que acreditava provirem do Céu, e esforçou-se fielmente por escrevê-las para instrução da Igreja. Muitos volumes de seus escritos foram publicados e têm circulação mundial. Muitos milhares de pessoas, convencidas pelas Escrituras de que estamos vivendo próximo ao final da história da Terra, têm sido levadas a crer que a Sra. White foi um instrumento por cujo meio Deus falou pelo Espírito de Profecia à Sua Igreja remanescente. Essa crença é certamente digna de consideração. O caráter de seu trabalho deve ser julgado por sua própria vida, por seus ensinos, e pela natureza das revelações que recebeu.

A Sra. White sempre desejava que seu trabalho e ensinos fossem provados pela norma da Palavra de Deus, tal como se acha revelada nas Escrituras Sagradas. "Que os testemunhos sejam julgados pelos seus frutos", escreveu ela. "Que espírito revelam seus ensinos? Qual tem sido o resultado de sua influência? ... Ou Deus está ensinando a Sua igreja, reprovando os seus erros e fortalecendo a sua fé, ou não está. Essa obra é de Deus ou não o é. Deus nada faz de parceria com Satanás. Minha obra ... ou traz o cunho de Deus ou o cunho do maligno. Não há meio-termo neste caso."

"Desde que o Senhor Se tem manifestado pelo Espírito de Profecia, o passado, o presente e o futuro se desenrolaram diante de meus olhos. Foram-me mostrados rostos que eu nunca vira, e anos depois, vendo-os tornei a reconhecê-los. Tenho sido despertada do sono sob a viva impressão de assuntos que previamente foram sugeridos à minha mente; e, à meia-noite, punha-me a escrever cartas que atravessaram o continente, chegando ao seu destino em momentos de crise e evitando à obra de Deus graves prejuízos. Isso tem sido o meu trabalho durante muitos anos. Uma virtude me impelia a reprovar e censurar faltas de que eu não tinha a menor noção.

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Seria essa minha obra... uma obra de cima ou da Terra? ... Os que realmente desejam conhecer a verdade, hão de encontrar provas suficientes em que apoiar sua fé." — Testemunhos Seletos 2:286-287.

A missão de Cristo engrandecida

A encarnação de Jesus Cristo, o divino Filho de Deus — "Cristo em vós, esperança da glória" (Colossences 1:27), é o grande tema do evangelho. "NEle habita corporalmente toda a plenitude da divindade. E estais perfeitos nEle." Colossences 2:9-10. A aceitação ou rejeição desta verdade vital é uma das provas divinamente indicadas para alguém que pretenda ter o dom de profecia.

"Não creiais a todo o espírito", escreveu o apóstolo João "mas provai se os espíritos são de Deus; porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo. Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus." 1 João 4:1-3.

Profetas falsos não exaltam a Cristo. Antes chamam a atenção para si mesmos. "Falarão coisas perversas, para atrair os discípulos após si." Atos 20:30. A fim de conseguir isso, ensinam de maneira a agradar a mente carnal daqueles que em seu coração "dizem aos videntes: Não vejais; e aos profetas: Não profetizeis para nós o que é reto; dizei-nos coisas aprazíveis". Isaías 30:10. Estes pretensos profetas ou ensinadores "do mundo são; por isso falam do mundo, e o mundo os ouve". 1 João 4:5.

Nos ensinos da Sra. White, Cristo é reconhecido e exaltado como o único Salvador para os pecadores. Afora Cristo, "debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos". Atos 4:12.

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Em seu próprio trabalho para o Mestre, ela exemplificou as seguintes instruções por ela dadas a seus irmãos no ministério:

"Cristo crucificado, Cristo ressurgido, Cristo assunto ao Céu, Cristo vindo outra vez — deve abrandar, alegrar, e encher o espírito do ministro, por tal forma, que ele apresente estas verdades ao povo em amor e profundo zelo. O ministro desaparecerá então, e Jesus será revelado. "Exaltai a Jesus, vós que ensinais o povo, exaltai-O nos sermões, em cânticos, em oração. Que todas as vossas forças conviriam para dirigir ao ‘Cordeiro de Deus’ almas confusas, transviadas, perdidas. Erguei-o, ao ressuscitado Salvador, e dizei a todos quantos ouvem: Vinde Àquele que ‘vos amou, e Se entregou a Si mesmo por nós’. Efésios 5:2. Seja a ciência da salvação o tema central de todo sermão, de todo hino. Seja ela manifestada em toda súplica. Não introduzais em vossas pregações coisa alguma que seja um suplemento a Cristo, a sabedoria e o poder de Deus. Mantende perante o povo a Palavra da vida, apresentando Jesus como a esperança do arrependimento e a fortaleza de todo crente. Revelai o caminho da paz à alma turbada e acabrunhada, e manifestai a graça e suficiência do Salvador." — Obreiros Evangélicos, 159-160.

"À lei e ao testemunho"

O inimigo da justiça sempre se tem esforçado para levar os homens a desrespeitar os reclamos da lei de Jeová. E mediante Seus profetas Deus sempre tem procurado levar os homens à compreensão das prescrições obrigatórias de Sua lei eterna e imutável. Está escrito acerca de Seu antigo povo: "E o Senhor protestou a Israel e a Judá, pelo ministério de todos os profetas, e de todos os videntes, dizendo: Convertei-vos de vossos maus

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caminhos, e guardai os Meus mandamentos e os Meus estatutos, conforme toda a lei que ordenei a vossos pais e que Eu vos enviei pelo ministério de Meus servos, os profetas." 2 Reis 17:13.

Nesta época em que vivemos, em que há manifesta e generalizada tendência para desprezar as normas da lei de Deus, a Sra. White, firme e destemidamente, esforçou-se por despertar a consciência dos homens para a santidade dos mandos divinos. A imutabilidade daquela lei, e a necessidade vital de obediência, mediante o poder de Cristo, a cada um de seus reclamos, inclusive o quarto mandamento, têm sido constantemente encarecidas em seu trabalho público. Sobre a relação da lei para com o evangelho, escreveu ela:

"Na vida de Cristo se tornam patentes os princípios da lei; e, ao tocar o Espírito Santo de Deus o coração, ao revelar a luz de Cristo aos homens a necessidade que têm de Seu sangue purificador e de Sua justificadora justiça, a lei é ainda um instrumento para nos levar a Cristo a fim de sermos justificados pela fé. ‘A lei do Senhor é perfeita, e refrigera a alma.’ Salmos 19:7.

"‘Até que o céu e a Terra passem’, disse Jesus, ‘nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido.’ Mateus 5:18. O Sol que brilha no céu, a sólida Terra sobre que habitamos, são testemunhas de Deus, de que Sua lei é imutável e eterna. Ainda que passem, perdurarão os divinos preceitos. ‘É mais fácil passar o céu e a Terra do que cair um til da lei.’ Lucas 16:17. O sistema de tipos que apontavam para Cristo como o Cordeiro de Deus, devia ser abolido por ocasião de Sua morte; mas os preceitos do decálogo são tão imutáveis como o trono de Deus." — O Desejado de Todas as Nações, 308.

As Escrituras sendo honradas

Os escritos da Sra. White indicam constantemente a Bíblia como a grande fonte de toda a verdade espiritual. São abundantes

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em citações escriturísticas, às quais ela não dá interpretação fantasiosa. Seus escritos não são, pelos adventistas do sétimo dia, considerados um acréscimo à Bíblia, nem seu estudo deve ocupar o lugar do estudo da Bíblia. Ela própria escreveu:

"A Palavra de Deus é suficiente para iluminar o espírito mais obscurecido, e pode ser entendida por aqueles que a desejam compreender. Não obstante, alguns dos que professam fazer da Palavra de Deus o seu estudo, procedem de maneira que é contrária aos seus mais claros ensinos. Portanto, para que homens e mulheres fiquem sem desculpa, Deus lhes dá testemunhos claros e diretos, fazendo-os voltar à Palavra que negligenciaram seguir." "Os testemunhos não são para diminuir a Palavra de Deus, mas para exaltá-la e atrair para ela os espíritos, para que a bela simplicidade da verdade impressione a todos."

"Nossa divisa deve ser: ‘À Lei e ao Testemunho! se eles não falarem segundo esta Palavra, é porque não têm iluminação.’ Isaías 8:20 (VT). Temos uma Bíblia cheia da mais preciosa verdade. Ela contém o alfa e o ômega do conhecimento. A Escritura, dada por inspiração de Deus, é ‘proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra’. 2 Timóteo 3:16-17. Tomai a Bíblia como o vosso livro de estudo." — Obreiros Evangélicos, 309.

Aos seus irmãos do ministério, ela escreveu: "Não defendais teorias nem provas que Cristo jamais mencionou e não têm fundamento na Bíblia. Temos verdades grandiosas e solenes para o povo. ‘Está escrito’ é a prova que deve ser apresentada a toda alma. Recorramos à Palavra de Deus para obter guia. Busquemos um ‘Assim diz o Senhor’. Temos tido já bastantes métodos humanos. Um espírito adestrado na ciência

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mundana unicamente, deixará de compreender as coisas de Deus; mas a mesma mente, convertida e santificada, verá na Palavra o poder divino."

Cumprimento das predições

Uma das características que distinguem o Deus verdadeiro de todos os falsos é o poder de comunicar-Se com os homens tanto acerca do passado como do futuro. Por meio do profeta Isaías, Jeová lança um desafio aos deuses adorados pelos gentios: "Anunciai-nos as coisas passadas, para que atentemos para elas, e saibamos o fim delas; ou fazei-nos ouvir as coisas futuras. Anunciai-nos as coisas que ainda hão de vir, para que saibamos que sois deuses." Isaías 41:22-23. E por causa da incapacidade desses falsos deuses para fazerem isso, Jeová declara: "Eis que sois menos do que nada e a vossa obra é menos do que nada: abominação é quem vos escolhe." Isaías 41:24.

Uma das provas indicadas por Deus para o reconhecimento do verdadeiro profeta é o exato cumprimento de suas palavras. Ao antigo Israel Deus disse por meio de Moisés, que foi poderoso profeta:

"Se disseres no teu coração: Como conheceremos a palavra que o Senhor não falou? Quando o tal profeta falar em nome do Senhor, e tal palavra se não cumprir, nem suceder assim, esta é a palavra que o Senhor não falou; com soberba a falou o tal profeta, não tenhas temor dele." Deuteronômio 18:21-22.

Muitos exemplos poderiam ser mencionados em que foi conferida previsão profética à Sra. White. Muitas vezes ela viu em visão pessoas a quem não conhecia. Mais tarde, em suas viagens, encontrou-as, e apresentou-lhes mensagens a elas

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destinadas, que lhe tinham sido conferidas em visão — mensagens que revelavam conhecimento de suas ações ou intuitos, o que ela não poderia ter recebido de qualquer fonte humana.

Nos primeiros anos de seu trabalho, numa ocasião em que ela, seu esposo e o Pastor José Bates eram quase os únicos que pregavam a verdade do sábado, foi-lhe revelado a futura expansão do movimento, então incipiente, e de que eles eram os vanguardeiros. A 1º de novembro de 1848, numa reunião realizada em Dorchester, Massachusetts, foi concedido à Sra. White uma visão em que contemplou a mensagem simbolizada pelo Sol nascente, que aumentava de intensidade até iluminar o mundo todo.

Depois desta visão, ela disse ao esposo que o Senhor desejava que ele iniciasse a publicação de uma pequena revista, e a obra de publicar a verdade cresceria até que as publicações se assemelhassem a torrentes de luz que envolveriam a Terra. Sob o ponto de vista humano, essa era na verdade uma predição ousada. Os crentes eram pouquíssimos em número, pobres em bens deste mundo, e suas doutrinas eram muito impopulares. Deus, porém, para quem todas as coisas são possíveis, cumpriu maravilhosamente essa palavra. Desde aquele tempo, a publicação de literatura repleta da verdade, efetuada por esta denominação, tem constantemente aumentado até que a venda da matéria impressa, em todas as partes do mundo, atinge a milhões de dólares anuais.

Relatando suas primeiras visões, a Sra. White estampou graficamente as experiências pelas quais o povo adventista deverá passar antes que o Senhor volte. Numa ocasião em que as manifestações do espiritismo se limitavam às "pancadas misteriosas", em Rochester, Nova Iorque, foi-lhe mostrado o crescimento rápido e fenomenal que aquele culto teria no futuro. Predisse a decretação de leis que obrigariam a observância

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do domingo em países em que naquela ocasião prevalecia inteira liberdade religiosa. Todas estas predições e muitas outras foram publicadas e difundidas amplamente. Os mutáveis acontecimentos ocorridos desde que estas predições foram escritas, têm demonstrado a veracidade de muitas delas, e seu cumprimento tem inspirado confiança crescente de que suas profecias relativas ao triunfo final da causa dos adventistas do sétimo dia igualmente se cumprirão. A prosperidade desse movimento tem sido promovida de maneira assinalada mediante os conselhos e advertências que pela sua voz e pena receberam os dirigentes e obreiros.

Seu estado durante as visões

Especialmente durante os primeiros anos de sua obra, as visões da Sra. White eram freqüentemente concedidas na presença de muitas testemunhas. Durante essas manifestações ela ficava inteiramente inconsciente de tudo quanto a rodeava na Terra. Contudo, freqüentemente andava e fazia graciosos gestos enquanto descrevia as cenas que testemunhava. Sua força em tais ocasiões era fenomenal. Homens fortes esforçavam-se por mover sua mão ou braço da posição em que os mantinha, mas não o conseguiam. Uma ocasião, em casa do Sr. Curtis, em Topsham, Maine, em 1845, ela tomou de sobre a cômoda uma grande Bíblia de uso da família, que pesava cerca de oito quilos, e, segurando-a com o braço esquerdo estendido, em posição mais alta que a cabeça, virava as páginas com a mão direita. E então com os olhos voltados para cima em direção diversa da do livro, lia corretamente muitas passagens das Escrituras, apontando os versículos com o indicador da mão direita. Com sua força normal ela teria dificuldade mesmo para levantar aquele pesado volume; enquanto, porém, de modo

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sobrenatural fortalecida em visão, susteve-o erguido, com o braço estendido, durante mais de meia hora.

Relatando suas visões, a Sra. White freqüentemente falava de alguém que a instruía, a quem chamava "meu anjo assistente", "meu instrutor" ou "meu guia". Por meio dessas expressões referia-se a um anjo resplendente, glorioso, que invariavelmente agia como seu guia e instrutor.

Posto que a Sra. White muitas vezes falasse quando em visão, todavia nenhum fôlego lhe saía dos lábios. Em 26 de junho de 1854, em Rochester, Nova Iorque, estando ela em visão, dois médicos se esforçaram por mostrar que devia haver alento em seus pulmões. Entre outras provas, foi posta uma vela acesa tão perto de seus lábios quanto possível sem os queimar; entretanto não houve nenhuma agitação na chama, embora naquela ocasião ela estivesse falando com força. A primeira indicação de que voltava da visão era uma inspiração profunda. Talvez se passassem vários segundos antes que tomasse o segundo fôlego. Então, depois de mais algumas inspirações profundas, voltava a respirar normalmente.

Essas condições físicas são análogas às do profeta Daniel, quando em visão, conforme ele as registra no décimo capítulo de sua profecia. Ele se refere a uma perda de força, e ao aparecimento de um anjo que lhe comunicava força sobrenatural. "Quanto a mim", declara ele, "desde agora não resta força em mim, e não ficou em mim fôlego. E uma como semelhança de um homem me tocou outra vez, e me confortou." Daniel 10:17-18.

Uma testemunha ocular

O Pastor Urias Smith, que durante sua vida privou com a Sra. White, e seu esposo, deu o seguinte testemunho atinente ao dom especial que ela possuía:

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"Todas as provas a que se podem submeter essas manifestações demonstram serem elas genuínas. As comprovações, tanto internas como externas, são conclusivas. Estão de acordo com a Palavra de Deus e consigo mesmas. Manifestam-se quando o Espírito de Deus está presente de maneira especial, a não ser que as pessoas mais aptas para julgar estejam invariavelmente enganadas. Tranqüilas, nobres e impressionantes, impõem-se elas a todos os que as contemplam como efetivamente o contrário daquilo que é falso e fanático.

"Seu fruto é de molde a mostrar que a fonte de que elas procedem é contrária ao mal.

"1. Seu objetivo é da mais pura moralidade. Condenam todo vício e exortam à prática de toda virtude. Indicam os perigos pelos quais devemos passar para irmos ao reino. Revelam os ardis de Satanás. Previnem-nos contra suas ciladas. Têm surpreendido ainda em estado embrionário planos após planos de fanatismo, que o inimigo tem procurado incutir em nosso meio. Desmascararam hedionda iniqüidade, revelaram faltas ocultas, e descobriram os maus intuitos dos hipócritas. Elas nos têm movido e induzido a maior consagração a Deus, a mais zelosos esforços pela santidade de coração, e a maior diligência na causa e serviço de nosso Mestre.

"2. Conduzem-nos a Cristo. Como a Bíblia, apresentam-nO como a única esperança e único Salvador da humanidade. Descrevem-nos em vívidos caracteres, Sua vida santa e exemplo piedoso, e com apelos irresistíveis nos exortam a seguir Seus passos.

"3. Conduzem-nos à Bíblia. Apresentam aquele livro como a Palavra de Deus, inspirada e inalterada. Exortam-nos a tomar aquela Palavra como nossa conselheira, e como norma de fé e prática. E, com força impelente, solicitam-nos que estudemos suas páginas, detida e diligentemente, e nos familiarizemos

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com seus ensinos, pois ela deve julgar-nos no último dia.

"4. Têm confortado e consolado muitos corações. Têm fortalecido o débil, animado o fraco, reerguido o desanimado. Da confusão têm trazido a ordem, tornando direitos os lugares tortos, e lançando luz sobre o que era negro e obscuro. Pessoa alguma, que esteja isenta de preconceitos, poderá ler seus comoventes apelos para uma moralidade pura e elevada, sua exaltação de Deus e do Salvador, sua denúncia de todo mal e suas exortações a tudo que é santo e de boa fama; sem ser compelida a dizer: ‘Estas palavras não são de endemoninhado.’"

O valor de sua obra

Depois de setenta anos de trabalho ativo em muitos países, escrevendo e pregando, a Sra. White adormeceu pacificamente em Jesus, em seu lar, próximo de Santa Helena, Califórnia, a 16 de julho de 1915. Foi sepultada ao lado de seu esposo no cemitério de Oak Hill, em Battle Creek, Michigan, em 24 de julho. No sermão fúnebre, o Pastor A. G. Daniells, presidente da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, disse, referindo-se ao seu trabalho:

"Talvez não tenhamos sabedoria bastante para bem definir que parte precisamente da obra da Sra. White foi de maior valor para o mundo; todavia, parece que a grande quantidade de literatura profundamente religiosa que deixou, se mostra ser da maior utilidade para todos. Seus livros são em número acima de vinte volumes. Alguns deles foram traduzidos para muitas línguas, em diferentes partes do mundo, tendo alcançado uma circulação de mais de dois milhões de exemplares, e continuam a propagar-se aos milhares.

"Ao observar-se o campo da verdade evangélica — a relação do homem para com seu Senhor e seus semelhantes —

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vê-se que a obra da Sra. White deu a estes grandes fundamentos um apoio positivo e construtivo. Ela tocou cada ponto das necessidades vitais da humanidade, e a ergueu a um nível mais alto.

"Ela repousa agora. Sua voz silenciou; depôs a pena. Mas a influência poderosa dessa vida ativa, esforçada e repleta do Espírito Santo, continuará. Sua vida, ligada às coisas eternas, cumpriu-se em Deus. A mensagem proclamada e a obra feita deixaram um monumento que nunca desmoronará nem perecerá. Os muitos volumes que deixou, em que trata de cada aspecto da vida humana, e insiste em cada reforma necessária para o melhoramento da sociedade, representada na família, cidade, Estado e nação, continuarão a moldar o sentimento público e o caráter individual. Suas mensagens serão mais apreciadas do que o foram no passado. A causa a que dedicou a vida, e que foi tão moldada e prosperou tanto por essa mesma vida, avançará com vigor e rapidez crescentes através dos anos. Nós que estamos identificados com essa causa, não precisamos alimentar receio algum, a não ser o de deixarmos de cumprir nossa parte tão fielmente como deveríamos."

Disponível também pela CPB