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História da Redenção
Livros 56
Autor: Ellen White
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Os links abaixo estão disponiveis com permissão do Ellen G. White Estate em Silver Spring, Maryland, EUA.

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Preeminente entre os que foram chamados para dirigir a igreja das trevas do papado à luz de uma fé mais pura, acha-se Martinho Lutero. Zeloso, ardente e dedicado, não conhecendo outro temor senão o de Deus, e não reconhecendo outro fundamento para a fé religiosa além das Escrituras Sagradas, Lutero foi o homem para o seu tempo; por meio dele, Deus efetuou uma grande obra para a reforma da igreja e esclarecimento do mundo.

Enquanto, um dia, examinava os livros da biblioteca da universidade, Lutero descobriu uma Bíblia latina. Tinha ouvido porções dos evangelhos e epístolas, que se liam ao povo no culto público, e supunha que isso fosse a Escritura toda. Agora, pela primeira vez, olhava para o todo da Palavra de Deus. Com um misto de reverência e admiração, folheava as páginas sagradas; com o pulso acelerado e o coração palpitante, lia por si mesmo as palavras de vida, detendo-se aqui e acolá para exclamar: "Oh! quem dera Deus me desse tal livro!" Anjos celestiais estavam a seu lado, e raios de luz procedentes do trono de Deus traziam-lhe à compreensão os tesouros da verdade. Sempre temera ofender a Deus, mas agora a profunda convicção de seu estado pecaminoso apoderou-se dele como nunca antes. Um desejo ardente de se achar livre do pecado e encontrar paz

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com Deus, levou-o afinal a entrar para um mosteiro e dedicar-se à vida monástica.

Todo momento que podia poupar de seus deveres diários empregava-o no estudo, furtando-se ao sono e cedendo mesmo a contragosto o tempo empregado em suas escassas refeições. Acima de tudo se deleitava no estudo da Palavra de Deus. Achara uma Bíblia acorrentada à parede do convento, e a ela muitas vezes recorria.

Lutero foi ordenado sacerdote, sendo chamado do claustro para o cargo de professor da Universidade de Wittemberg. Ali se aplicou ao estudo das Escrituras nas línguas originais. Começou a fazer conferências sobre a Bíblia; e o livro dos Salmos, os Evangelhos e as Epístolas abriram-se à compreensão de multidões que se deleitavam em ouvi-lo. Era já poderoso nas Escrituras, e sobre ele repousava a graça de Deus. Sua eloqüência cativava os ouvintes; a clareza e poder com que apresentava a verdade levavam-nos à convicção, e seu profundo fervor tocava os corações.

Um Líder em Reforma

Na providência de Deus, ele decidiu visitar Roma. Uma indulgência fora prometida pelo papa a todos quantos subissem de joelhos a conhecida escada de Pilatos. Lutero estava, certo dia, realizando esse ato, quando, subitamente, uma voz semelhante a trovão pareceu dizer-lhe: "O justo viverá da fé." Rom. 1:17. Ergueu-se sobre seus pés e, envergonhado e horrorizado, deixou rapidamente o cenário de sua loucura. Esse texto nunca perdeu a força sobre sua alma. Desde aquele tempo, viu mais claramente do que nunca antes a falácia de se confiar nas obras humanas para a salvação, e a necessidade de fé constante nos méritos de Cristo. Tinham-se-lhe aberto os olhos, e nunca mais se deveriam fechar aos enganos satânicos

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do papado. Quando ele deu as costas a Roma, também dela volveu o coração, e desde aquele tempo o afastamento se tornou cada vez maior, até romper todo contato com a igreja papal.

Depois de voltar de Roma, Lutero recebeu na Universidade de Wittenberg o grau de doutor em Teologia. Estava agora na liberdade de se dedicar, como nunca antes, às Escrituras que amava. Fizera solene voto de estudar cuidadosamente a Palavra de Deus e, todos os dias de sua vida, pregá-la com fidelidade, e não os dizeres e doutrinas dos papas. Não mais era o simples monge ou professor, mas o autorizado arauto da Bíblia. Fora chamado para pastor, a fim de alimentar o rebanho de Deus, que tinha fome e sede da verdade. Declarava firmemente que os cristãos não deveriam receber outras doutrinas senão as que se apóiam na autoridade das Sagradas Escrituras. Essas palavras feriam o próprio fundamento da supremacia papal. Continham o princípio vital da Reforma.

Entra Lutero, ousadamente, em sua obra como campeão da verdade. Sua voz era ouvida do púlpito, em advertência ardorosa e solene. Expôs ao povo o caráter ofensivo do pecado, ensinando-lhes ser impossível ao homem, por suas próprias obras, diminuir as culpas ou fugir ao castigo. Nada, a não ser o arrependimento para com Deus e a fé em Cristo, pode salvar o pecador. A graça de Cristo não pode ser comprada; é dom gratuito. Aconselhava o povo a não comprar indulgências, mas a olhar com fé para um Redentor crucificado. Relatou sua própria e penosa experiência ao procurar, sem êxito, pela humilhação e penitência conseguir salvação, e afirmou a seus ouvintes que foi olhando fora de si mesmo e crendo em Cristo que encontrara paz e alegria.

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Os ensinos de Lutero atraíram a atenção dos espíritos pensantes de toda a Alemanha. De seus sermões e escritos procediam raios de luz que despertavam e iluminavam a milhares. Uma fé viva estava tomando o lugar do morto formalismo em que a igreja se mantivera durante tanto tempo. O povo estava diariamente perdendo a confiança nas superstições do catolicismo. As barreiras do preconceito iam cedendo. A Palavra de Deus, pela qual Lutero provava toda doutrina e qualquer reclamo, era semelhante a uma espada de dois gumes, abrindo caminho ao coração do povo. Por toda parte se despertava o desejo de progresso espiritual. Fazia séculos que não se via, tão generalizada, a fome e sede de justiça. Os olhos do povo, havia tanto voltados para ritos humanos e mediadores terrestres, volviam-se agora em arrependimento e fé para Cristo, e Este crucificado.

Os escritos e doutrinas do reformador estendiam-se a todas as nações da cristandade. A obra espalhou-se à Suíça e Holanda. Exemplares de seus escritos tiveram ingresso na França e Espanha. Na Inglaterra, seus ensinos eram recebidos como palavras de vida. À Bélgica e Itália também se estendeu a verdade. Milhares estavam a despertar do torpor mortal para a alegria e esperança de uma vida de fé.

Lutero Rompe com Roma

Roma estava empenhada na destruição de Lutero, mas Deus era a sua defesa. Suas doutrinas eram ouvidas em toda parte - nas cabanas e nos conventos, nos castelos de nobres, nas universidades e nos palácios dos reis; e homens nobres surgiam por toda parte para amparar-lhe os esforços.

Num apelo ao imperador e à nobreza da Alemanha, em favor da Reforma do cristianismo, Lutero escreveu

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relativamente ao papa: "É horrível contemplar o homem que se intitula vigário de Cristo, a ostentar uma magnificência que nenhum imperador pode igualar. É isso ser semelhante ao pobre Jesus, ou o humilde Pedro? Ele é, dizem, o senhor do mundo! Mas Cristo, cujo vigário ele se jacta de ser, disse: 'Meu reino não é deste mundo.' Podem os domínios de um vigário estender-se além dos de seu superior?"

Assim escreveu ele acerca das universidades: "Receio muito que as universidades se revelem grandes portas do inferno, a menos que diligentemente trabalhem para explicar as Santas Escrituras, e gravá-las no coração dos jovens. Não aconselho ninguém a pôr seu filho onde as Escrituras não reinem supremas. Toda instituição em que os homens não se achem incessantemente ocupados com a Palavra de Deus, tem de tornar-se corrupta."

Este apelo circulou rapidamente por toda a Alemanha e exerceu poderosa influência sobre o povo. A nação toda foi convocada a reunir-se ao redor do estandarte da Reforma. Os oponentes de Lutero, ardentes no desejo de vingança, insistiam em que o papa tomasse medidas decisivas contra ele. Decretou-se que suas doutrinas fossem imediatamente condenadas. Sessenta dias foram concedidos ao reformador e a seus adeptos, findos os quais, se não renunciassem, deveriam todos ser excomungados.

Quando a bula papal chegou a Lutero, disse ele: "Desprezo-a e ataco-a como ímpia, falsa. ... É o próprio Cristo que nela é condenado. ... Regozijo-me por ter de suportar tais males pela melhor das causas. Sinto já maior liberdade em meu coração; pois finalmente sei que o papa é o anticristo, e que o seu trono é o do próprio Satanás."

Todavia, a palavra do pontífice ainda tinha poder. Prisão, tortura e espada eram armas potentes para

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forçar à obediência. Tudo parecia indicar que a obra do reformador estava a ponto de terminar. Os fracos e supersticiosos tremiam perante o decreto do papa; e, conquanto houvesse simpatia geral por Lutero, muitos sentiam que a vida era por demais preciosa para que fosse arriscada na causa da Reforma.

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