- Conselhos sobre a Educação 2. Educação
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A Bíblia inteira é uma revelação da glória de Deus em Cristo. Recebida, crida e obedecida, é o grande instrumento na transformação do caráter. E é o único meio seguro de cultura intelectual.
A razão de ser hoje a juventude, e mesmo os de anos maduros, tão facilmente levados à tentação e pecado, é não estudarem eles a Palavra de Deus e meditarem sobre ela como deviam. A ausência de firme, resoluta força de vontade, que se faz sentir na vida e no caráter, resulta de negligenciarem a sagrada instrução da Palavra de Deus. Não dirigem o espírito, mediante um esforço sincero, àquilo que inspiraria pensamentos puros e santos e o desviaria do que é impuro e falso. Poucos há que escolhem a melhor parte, que se assentam aos pés de Jesus, como fez Maria, para aprender do Mestre divino. Poucos há que entesouram Suas palavras no coração e as praticam na vida.
As verdades da Bíblia, recebidas, erguerão o espírito de sua afeição às coisas mundanas e seu envilecimento. Se a Palavra de Deus fosse apreciada como deveria ser, tanto os novos como os velhos possuiriam uma retidão interior, uma força de princípios, que os habilitariam a resistir à tentação.
Ensinem e escrevam os homens as coisas preciosas das Santas Escrituras. Dediquem eles os pensamentos, as aptidões, o vigoroso exercício do poder cerebral, ao estudo dos pensamentos de Deus. Não estudeis a filosofia de conjecturas humanas, mas estudai a filosofia dAquele que é a verdade. Literatura diferente é de pouco valor comparada com essa.
A mente terrena não encontra prazer na contemplação da
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Palavra de Deus; mas para a mente renovada pelo Espírito Santo, divina beleza e luz celestial brilham da Página Sagrada. Aquilo que para a mente terrena era um árido deserto, torna-se para a mente espiritual uma terra de torrentes vivas.
Deve ser dado a nossos filhos
O conhecimento de Deus tal como é revelado em Sua Palavra é o conhecimento que deve ser dado a nossos filhos. Desde o primeiro desabrochar da razão devem eles ser familiarizados com o nome e a vida de Jesus. A primeira de todas as lições que se lhes dê deve ser a de que Deus é seu Pai. Os primeiros rudimentos de educação que se lhes ministrem devem ensiná-los a prestar amorosa obediência. Leia-se-lhes e repita-se-lhes a Palavra de Deus, com reverência e ternura, em porções adequadas à sua compreensão e apropriadas a despertar-lhes o interesse. Sobretudo aprendam eles de Seu amor revelado em Cristo, e sua grande lição:
“Se Deus assim nos amou, também nos devemos amar uns aos outros.” 1 João 4:11.
Faça a juventude da Palavra de Deus o alimento do espírito e da alma. Torne-se a cruz de Cristo a ciência de toda a educação, o centro de todo o ensino e todo o estudo. Seja ela introduzida na experiência diária da vida prática. Assim o Salvador Se tornará para os jovens um amigo e companheiro quotidiano. Todo o entendimento será levado cativo à obediência de Cristo. Com o apóstolo Paulo, estarão eles no caso de dizer:
“Longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo.” Gálatas 6:14.
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Conhecimento experimental
Assim, pela fé chegarão a conhecer a Deus por um conhecimento experimental. Experimentaram por si mesmos a realidade de Sua Palavra, a veracidade de Suas promessas. Provaram e viram que o Senhor é bom.
O amado João tinha um conhecimento adquirido por sua própria experiência. Podia ele testificar:
“O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram a Palavra da vida (porque a vida foi manifestada, e nós a vimos, e testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna, que estava com o Pai, e nos foi manifestada); o que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai, e com Seu Filho Jesus Cristo.” 1 João 1:1-3.
Desse modo cada um poderá, por sua própria experiência, testificar “que Deus é verdadeiro”. João 3:33. Poderá então dar testemunho daquilo que ele mesmo viu, ouviu e sentiu do poder de Cristo. Poderá atestar:
“Eu precisava de auxílio, e encontrei-o em Jesus. Supriu-me todas as necessidades, saciou a fome de minha alma; a Bíblia é para mim a revelação de Cristo. Creio em Jesus porque Ele é para mim um Salvador divino. Creio na Bíblia porque descobri ser ela a voz de Deus à minha alma.”
Admiráveis possibilidades
É nosso privilégio avançar sempre mais alto, em busca de mais claras revelações do caráter de Deus. Quando Moisés orou: “Rogo-Te que me mostres a Tua glória”, o Senhor não o
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repreendeu, mas atendeu-lhe a petição. Declarou Deus ao Seu servo: “Eu farei passar toda a Minha bondade por diante de ti, e apregoarei o nome do Senhor diante de ti.” Êxodo 33:18, 19.
É o pecado que nos obscurece o espírito e embota as percepções. Ao ser o pecado expulso de nosso coração, a luz do conhecimento da glória de Deus na face de Jesus Cristo, iluminando Sua Palavra e refletida da face da Natureza, declará-Lo-á, cada vez mais plenamente, “misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade”. Êxodo 34:6.
Em Sua luz veremos a luz, até que espírito, coração e alma estejam transformados à imagem de Sua santidade.
Maravilhosas possibilidades estão abertas aos que se apegam às divinas afirmações da Palavra de Deus. Há verdades gloriosas que hão de apresentar-se perante o povo de Deus. Privilégios e deveres que eles nem mesmo imaginam achar-se na Bíblia, hão de ser-lhes expostos perante os olhos. Ao prosseguirem na vereda da humilde obediência, cumprindo a Sua vontade, hão de conhecer cada vez mais os oráculos de Deus.
Tome o estudante a Bíblia como seu guia e ponha-se como uma rocha em defesa dos princípios, e poderá aspirar às mais altas consecuções. Todas as filosofias da natureza humana têm levado à confusão e vergonha quando Deus não tem sido reconhecido como tudo em todos. Mas a preciosa fé inspirada por Deus comunica força e nobreza de caráter. Quando nos demoramos sobre Sua bondade, Sua misericórdia e Seu amor, torna-se-nos cada vez mais clara a percepção da verdade; mais elevado, mais santo, o desejo de pureza de coração e clareza de pensamento. A alma que habita na pura atmosfera de pensamentos santos é transformada pela comunicação com Deus por meio do estudo de Sua Palavra. A verdade é tão grande, de tão vasto alcance, tão profunda, tão ampla, que se perde de vista o próprio eu. O coração abranda-se e submete-se em humildade, bondade e amor.
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E as faculdades naturais crescem por causa da santa obediência. Do estudo das palavras de vida podem os estudantes ficar com o espírito expandido, elevado, enobrecido. Se forem, como Daniel, ouvintes e obradores da Palavra de Deus, poderão avançar como ele avançou em todos os ramos de ciência. Sendo de pensamento puro, tornar-se-ão fortes mentalmente. Todas as faculdades intelectuais se avigorarão. Poderão por tal forma educar-se e disciplinar-se que todos os que se encontram dentro da esfera de sua influência, verão o que pode tornar-se o homem, e o que pode fazer, quando em ligação com o Deus da sabedoria e poder.
Resultados de receber a palavra de Deus
Foi esta a experiência adquirida pelo salmista, por meio do conhecimento da Palavra de Deus. Diz ele:
“Bem-aventurados os irrepreensíveis no seu caminho,
“De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho?
“Desvenda os meus olhos,
Do que milhares de ouro ou de prata.”
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“Quanto amo a Tua Lei!
“Puríssima é a Tua Palavra,
“Grande paz têm os que amam a Tua Lei;Para eles não há tropeço.”“Espero Senhor, na Tua salvação,E cumpro os Teus mandamentos.“A minha alma tem observado os Teus testemunhos;Eu os amo ardentemente.”
“Suspiro, Senhor, por Tua salvação;
Um auxílio no estudo da natureza
Aquele que possui um conhecimento de Deus e de Sua Palavra pela experiência pessoal acha-se preparado para empenhar-se no estudo da ciência natural. De Cristo acha-se
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escrito: “NEle estava a vida, e a vida era a luz dos homens.” João 1:4. Quando Adão e Eva no Éden perderam as vestes de santidade, perderam também a luz que iluminara a Natureza. Não mais a podiam ler devidamente. Mas para os que recebem a luz da vida de Cristo, a Natureza de novo se ilumina À luz que brilha da cruz, podemos interpretar devidamente os ensinamentos da Natureza.
Aquele que tem conhecimento de Deus e de Sua Palavra tem consumada fé na divindade das Santas Escrituras. Ele não testa a Bíblia pelas idéias científicas do homem. Ele traz essas idéias ao teste da norma infalível. Sabe que a Palavra de Deus é verdade, e a verdade jamais pode contradizer-se; seja o que for que, nos ensinamentos da chamada ciência, contradiga a verdade da revelação divina, é mera conjetura humana.
Para o homem verdadeiramente sábio, as investigações científicas abrem vastos campos de pensamento e informações. Os caminhos de Deus, revelados no mundo natural e em Seu trato com o homem, constituem um tesouro do qual todo estudante na escola de Cristo se pode prevalecer.
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A verdadeira evidência de um Deus vivo não se encontra meramente na teoria; acha-se na convicção que Deus nos escreveu no coração, iluminada e explanada por Sua Palavra. Acha-se no poder vivo das obras que criou, vistas por olhos iluminados pelo Espírito Santo.
Os que julgam a Deus pelas Suas obras, e não através de suposições de grandes homens, esses vêem Sua presença em tudo. Observam-Lhe o sorriso na alegre luz do Sol, e Seu amor e cuidado pelos homens nas abundantes searas de outono. Mesmo os enfeites da terra, a verdejante relva, as belas flores de todos os matizes, as altaneiras árvores das florestas, de tantas espécies, o rumorejante regato, o majestoso rio, o plácido lago — tudo testifica do terno e paternal cuidado de Deus e de Seu desejo de tornar felizes os Seus filhos.
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A natureza, chave dos mistérios divinos
Ao contemplar o estudante assim as coisas da Natureza, sobrevém-lhe uma nova percepção da verdade. Os ensinamentos do grande e divino livro da Natureza atestam a verdade da palavra escrita.
No plano da redenção há mistérios que a mente humana é incapaz de penetrar, muitas coisas que a sabedoria humana não sabe explicar; mas a Natureza pode ensinar-nos muito acerca do mistério da piedade. Cada botão, cada árvore carregada de frutos, toda a vegetação, encerram lições para nosso estudo. Na germinação da semente lêem-se os mistérios do reino de Deus.
Ao coração abrandado pela graça de Deus, o Sol, a Lua, as estrelas, as árvores, as flores do campo, pronunciam palavras de conselho. O lançar a semente leva o espírito a lembrar a semeadura espiritual. A árvore declara que uma árvore boa não pode dar fruto mau, nem uma árvore má dar bom fruto. “Por seus frutos os conhecereis.” Mateus 7:16. Mesmo o joio encerra uma lição. É ele cultura de Satanás e, deixado à vontade, estraga o trigo por seu crescimento viçoso.
Pais e mães, ensinai a vossos filhos acerca do Deus que opera maravilhas. Seu poder se manifesta em cada planta, em cada árvore que produz fruto. Levai os filhos para o quintal e explicai-lhes como ele faz a semente germinar. O lavrador amanha a terra e lança a semente, mas não pode fazê-la nascer. Ele precisa confiar em que Deus faça aquilo que nenhum poder humano pode fazer. O Senhor põe o Seu Espírito na semente, fazendo com que ela germine. Sob o Seu cuidado o germe rompe seu invólucro e nasce, desenvolvendo-se e produzindo fruto.
Ao estudarem as crianças o grande compêndio da Natureza, Deus lhes impressionará o espírito. Ao lhes ser falado da
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obra que Ele faz em favor da semente, aprendem o segredo do crescimento na graça. Devidamente compreendidas, estas lições conduzem ao Criador, ensinando essas simples e santas verdades que levam o coração em íntimo contato com Deus.
Uma lição de obediência
As leis que Deus impôs à Natureza são por ela obedecidas. Nuvens e tempestades, Sol e chuva, orvalho e aguaceiros, todos estão sob a supervisão de Deus e obedecem às Suas ordens. Em obediência à Lei de Deus, a haste do cereal rompe a terra, “primeiro a erva, depois a espiga, e por último o grão cheio na espiga”. Marcos 4:28. O fruto se vê primeiro no botão, e o Senhor o desenvolve em seu tempo próprio, porque ele não resiste à Sua operação. Assim também as aves cumprem o propósito de Deus, ao fazerem suas longas migrações de uma terra à outra, guiadas através do desconhecido espaço pela mão de poder infinito.
Será possível que o homem, feito à imagem de Deus, dotado de raciocínio e do dom da fala, seja o único que não avalie os Seus dons e que seja desobediente às Suas leis? Hão de os que poderiam ser elevados e enobrecidos, habilitados a ser coobreiros Seus, contentar-se com permanecer imperfeitos no caráter e causar confusão em nosso mundo? Deverão o corpo e alma da herança adquirida por Deus ser embaraçados por hábitos mundanos e práticas ímpias? Não deverão eles refletir a formosura dAquele que todas as coisas fez bem, a fim de que por Sua graça o imperfeito homem pudesse afinal ouvir-Lhe a bênção: “Bem está, servo bom e fiel. ... Entra no gozo do teu Senhor.”
Deus deseja que aprendamos da Natureza a lição da obediência.
“Mas, pergunta agora às alimárias,e cada uma delas to ensinará;E às aves dos céus, e elas to farão saber.Ou fala com a terra, e ela te instruirá;
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Até os peixes do mar to contarão.Qual entre todos estes não sabeQue a mão do Senhor fez isto?”“Não! com Deus está a sabedoria e a força;Ele tem conselho e entendimento.”
“Bem-aventurado o homem” que “o seu prazer está na lei do Senhor. ...Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas,Que no devido tempo, dá o seu fruto,E cuja folhagem não murcha;E tudo quanto ele faz será bem-sucedido.”
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O livro da Natureza e a Palavra escrita projetam luz mutuamente sobre si. Ambos nos tornam mais familiarizados com Deus, dando-nos ensinamentos acerca de Seu caráter e das leis pelas quais Ele opera.
A educação na vida por vir
A educação iniciada aqui não será completada nesta vida; prosseguirá através da eternidade — progredindo sempre, nunca se completando. Dia a dia, as maravilhosas obras de Deus, as provas de Seu miraculoso poder ao criar e manter o Universo, abrir-se-ão ao espírito em nova beleza. À luz que procede do trono desaparecerão os mistérios, e a alma se encherá de assombro pela simplicidade das coisas que nunca dantes compreendera.
Agora vemos por um espelho, obscuramente; mas então veremos face a face; agora conhecemos em parte; mas então conheceremos assim como também somos conhecidos.