avatar
Atos dos Apóstolos
Livros 423
Autor: Ellen White
Compartilhar InstalarEnglish
Os links abaixo estão disponiveis com permissão do Ellen G. White Estate em Silver Spring, Maryland, EUA.

Ler Audio pdf epub mobi EWG CPB

Pág. 166

"Enviados pelo Espírito Santo", Paulo e Barnabé, depois de sua ordenação pelos irmãos em Antioquia, "desceram a Selêucia e dali navegaram para Chipre." Atos 13:4. Assim começaram os apóstolos sua primeira viagem missionária.

Chipre era um dos lugares para onde os crentes tinham fugido de Jerusalém por causa da perseguição que se seguiu à morte de Estêvão. Foi de Chipre que alguns homens tinham viajado para Antioquia, "anunciando o Senhor Jesus". Atos 11:20. O próprio Barnabé era "natural de Chipre" (Atos 4:36); e agora, ele e Paulo, acompanhados por João Marcos, parente de Barnabé, visitavam essa ilha.

A mãe de Marcos era uma convertida à religião cristã, e seu lar em Jerusalém era um abrigo para os discípulos. Ali estavam sempre certos de serem bem-vindos para ocasiões de repouso. Foi durante uma dessas visitas dos apóstolos ao lar da mãe de Marcos que este propôs

Pág. 167

a Paulo e Barnabé acompanhá-los em sua viagem missionária. Ele sentia o favor de Deus em seu coração, e almejava devotar-se inteiramente à obra do ministério evangélico.

Chegando a Salamina, os apóstolos "anunciavam a Palavra de Deus nas sinagogas dos judeus. ... E havendo atravessado a ilha até Pafos, acharam um certo judeu mágico, falso profeta, chamado Barjesus, o qual estava com o procônsul Sérgio Paulo, varão prudente. Este, chamando a si Barnabé e Saulo, procurava muito ouvir a Palavra de Deus. Mas resistia-lhes Elimas, o encantador (que assim se interpreta o seu nome), procurando apartar da fé o procônsul". Atos 13:5-8.

Não é sem luta que Satanás permite ser o reino de Deus estabelecido na Terra. As forças do mal estão empenhadas em incessante luta contra os instrumentos indicados para disseminar o evangelho; e esses poderes das trevas são especialmente ativos quando a verdade é proclamada diante de homens de reputação e genuína integridade. Assim foi quando Sérgio Paulo, o procônsul de Chipre, estava ouvindo a mensagem do evangelho. O procônsul tinha solicitado a presença dos apóstolos, para ser instruído na mensagem que possuíam; e agora as forças do mal, operando por intermédio de Elimas, o encantador, procuravam com malignas sugestões desviá-lo da fé, e impedir assim o propósito de Deus.

Desta maneira sempre trabalha o inimigo caído para conservar em suas fileiras homens de influência que, se convertidos, prestariam eficiente serviço à causa de Deus. Mas o fiel obreiro do evangelho não precisa temer

Pág. 168

malogro à mão do inimigo, pois é seu privilégio ser assistido com o poder do alto a fim de enfrentar cada satânica influência.

Embora penosamente assediado por Satanás, Paulo teve a coragem de repreender aquele por cujo intermédio o inimigo agia. "Cheio do Espírito Santo", o apóstolo "fixando os olhos nele, disse: Ó filho do diabo, cheio de todo o engano e de toda a malícia, inimigo de toda a justiça, não cessarás de perturbar os retos caminhos do Senhor? Eis aí, pois, agora contra ti a mão do Senhor, e ficarás cego, sem ver o sol por algum tempo. E no mesmo instante a escuridão e as trevas caíram sobre ele, e, andando à roda buscava a quem o guiasse pela mão. Então o procônsul, vendo o que havia acontecido, creu, maravilhado da doutrina do Senhor." Atos 13:9-12.

O mágico tinha cerrado os olhos às evidências da verdade evangélica, e o Senhor, em justa indignação, fez que seus olhos naturais se fechassem, deles excluindo a luz do dia. Esta cegueira não foi permanente, mas apenas por certo período, a fim de que fosse advertido e se arrependesse, buscando o perdão de Deus a quem tão gravemente ofendera. A confusão em que assim foi lançado, tornou de nenhum efeito suas artes sutis contra a doutrina de Cristo. O fato de ter ele de andar apalpando, em sua cegueira, provou a todos que os milagres que os apóstolos haviam realizado, e que Elimas acusara de serem prestidigitações, haviam sido operados pelo poder de Deus. O procônsul, convencido da verdade da doutrina ensinada pelos apóstolos, aceitou o evangelho.

Pág. 169

Elimas não era homem de cultura, no entanto estava peculiarmente capacitado para fazer a obra de Satanás. Os que pregam a verdade de Deus encontrarão o astucioso inimigo por muitas diferentes formas. Algumas vezes será na pessoa de um erudito, mas na maioria delas por intermédio de homens ignorantes, a quem Satanás treinou para se tornarem eficientes instrumentos no enganar as almas. É dever do ministro de Cristo permanecer fiel em seu posto, no temor de Deus e na força do Seu poder. Assim poderá ele pôr em confusão as hostes de Satanás e triunfar no nome do Senhor.

Paulo e seus companheiros continuaram viagem para Perge, na Panfília. Seu caminho era penoso; encontraram dificuldades e privações, e estavam cercados de perigos por todos os lados. Nas vilas e cidades por onde passavam, e ao longo das estradas desertas, estavam rodeados de perigos visíveis e invisíveis. Mas Paulo e Barnabé tinham aprendido a confiar no poder libertador de Deus. O coração deles estava cheio de fervente amor pelas almas a perecer. Como fiéis pastores na busca da ovelha perdida, não abrigavam o pensamento de facilidades ou conveniências próprias. Esquecidos de si mesmos, não fraquejavam quando cansados, famintos ou com frio. Eles tinham em vista um único objetivo – a salvação dos que vagueavam distantes do redil.

Foi aqui que Marcos, dominado por temor e desânimo, hesitou por um momento em seu propósito de consagrar-se de todo o coração à obra do Senhor. Pouco habituado a sacrifícios, desanimaram-no os perigos e privações do caminho. Trabalhara com êxito sob

Pág. 170

circunstâncias favoráveis, mas agora, em meio da oposição e dos perigos que tantas vezes cercam o missionário pioneiro, não suportou as dificuldades como bom soldado da cruz. Devia aprender ainda a enfrentar valorosamente os perigos, perseguições e adversidades. À medida que os apóstolos avançavam, encontrando dificuldades cada vez maiores, Marcos intimidou-se, e perdendo todo o ânimo, recusou-se a prosseguir, retornando a Jerusalém.

Esta deserção fez com que Paulo julgasse por algum tempo desfavoravelmente a Marcos; severamente mesmo. Por outro lado, Barnabé se inclinava a desculpá-lo devido a sua inexperiência. Estava ansioso por que Marcos não abandonasse o ministério, pois nele via qualidades que o habilitariam para ser útil obreiro de Cristo. Anos depois sua solicitude por Marcos foi ricamente recompensada; pois o jovem se entregou sem reservas ao Senhor e à tarefa de proclamar a mensagem do evangelho em campos difíceis. Sob a bênção de Deus e a sábia orientação de Barnabé, ele se tornou um valoroso obreiro.

Paulo se reconciliou mais tarde com Marcos, recebendo-o como colaborador. Recomendou-o também aos colossenses, como "cooperador no reino de Deus" e como tendo para ele "sido consolação". Col. 4:11. Não muito tempo antes de sua morte, Paulo tornou a falar de Marcos como lhe sendo "muito útil para o ministério". II Tim. 4:11.

Depois da partida de Marcos, Paulo e Barnabé visitaram Antioquia da Pisídia, e no sábado entraram na sinagoga judaica e se assentaram. "E, depois da lição da lei e dos profetas, lhes mandaram dizer os principais da

Pág. 171

sinagoga: varões irmãos, se tendes alguma palavra de consolação para o povo, falai." Convidado para falar, levantou-se "Paulo, e pedindo silêncio com a mão, disse: Varões israelitas, e os que temeis a Deus, ouvi". Seguiu-se então um maravilhoso discurso. Ele começou por historiar a maneira como o Senhor havia tratado com os judeus desde o tempo de seu libertamento do cativeiro egípcio, e como fora prometido um Salvador, da semente de Davi. E ousadamente declarou que "da descendência deste, conforme a promessa, levantou Deus a Jesus para Salvador de Israel; tendo primeiramente João, antes da vinda dEle, pregado a todo o povo de Israel o batismo do arrependimento. Mas João, quando completava a carreira, disse: Quem pensais vós que eu sou? Eu não sou o Cristo; mas eis que após mim vem Aquele a quem não sou digno de desatar as alparcas dos pés". Assim com poder ele pregou a Jesus como o Salvador dos homens, o Messias da profecia.

Depois de haver feito esta declaração, disse Paulo: "Varões irmãos, filhos da geração de Abraão, e os que dentre vós temem a Deus, a vós vos é enviada a palavra desta salvação. Por não terem conhecido a Este, os que habitavam em Jerusalém, e os seus príncipes, condenaram-nO, cumprindo assim as vozes dos profetas que se lêem todos os sábados." Atos 13:13-27.

Paulo não hesitou em falar com clareza a verdade concernente à rejeição do Salvador pelos dirigentes judaicos. "E, embora não achassem alguma causa de morte, pediram a Pilatos que Ele fosse morto", declarou o

Pág. 172

apóstolo. "E, havendo eles cumprido todas as coisas que dEle estavam escritas, tirando-O do madeiro, O puseram na sepultura; mas Deus O ressuscitou dos mortos. E Ele por muitos dias foi visto pelos que subiram com Ele da Galiléia a Jerusalém, e são Suas testemunhas para com o povo." Atos 13:28-31.

"E nós vos anunciamos", continuou o apóstolo, "que a promessa que foi feita aos pais Deus a cumpriu, a nós, Seus filhos, ressuscitando a Jesus; como também está escrito no salmo segundo: Meu Filho és Tu, hoje Te gerei. E que O ressuscitaria dos mortos, para nunca mais tornar à corrupção, disse-o assim: As santas e fiéis bênçãos de Davi vos darei. Pelo que também em outro salmo diz: Não permitirás que o Teu Santo veja corrupção. Porque, na verdade, tendo Davi no seu tempo servido conforme a vontade de Deus, dormiu, e foi posto junto de seus pais e viu a corrupção. Mas aquele a quem Deus ressuscitou nenhuma corrupção viu." Atos 13:32-37.

E agora, tendo falado claramente do cumprimento de profecias familiares concernentes ao Messias, Paulo pregou-lhes o arrependimento e a remissão dos pecados mediante os méritos de Jesus, Salvador deles. "Seja-vos pois notório, varões irmãos", disse ele, "que por Este se vos anuncia a remissão dos pecados. E de tudo o que, pela lei de Moisés, não pudestes ser justificados, por Ele é justificado todo aquele que crê." Atos 13:38-39.

O Espírito de Deus acompanhou as palavras faladas e os corações foram tocados. O apelo dos apóstolos às profecias do Antigo Testamento, e sua declaração de que elas haviam sido cumpridas no ministério de Jesus de Nazaré,

Pág. 173

levaram a convicção a muitas almas que suspiravam pelo advento do Messias prometido. As palavras de afirmação dos apóstolos, de que "as boas novas" (Isa. 52:7) de salvação eram para judeus e gentios igualmente, trouxeram esperança e alegria a todos os que não haviam sido contados entre os filhos de Abraão segundo a carne.

"E, saídos os judeus da sinagoga, os gentios rogaram que no sábado seguinte lhes fossem ditas as mesmas coisas." Tendo finalmente a congregação se dispersado, "muitos dos judeus e dos prosélitos religiosos", que tinham aceitado as boas novas que lhes foram apresentadas naquele dia, "seguiram a Paulo e Barnabé, os quais, falando-lhes, os exortavam a que permanecessem na graça de Deus". Atos 13:42 e 43.

O interesse despertado em Antioquia da Pisídia pelo discurso de Paulo, reuniu no "sábado seguinte... quase toda a cidade a ouvir a Palavra de Deus. Então os judeus, vendo a multidão, encheram-se de inveja; e, blasfemando, contradiziam o que Paulo dizia.

"Mas Paulo e Barnabé, usando de ousadia, disseram: Era mister que a vós se vos pregasse primeiro a Palavra de Deus; mas, visto que a rejeitais, e vos não julgais dignos da vida eterna, eis que nos voltamos para os gentios; porque o Senhor assim no-lo mandou: Eu te pus para luz dos gentios, para que sejas de salvação até aos confins da Terra."

"E os gentios, ouvindo isto, alegraram-se, e glorificavam a Palavra do Senhor; e creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna." Eles se rejubilaram grandemente de Jesus os reconhecer como filhos de

Pág. 174

Deus, e com coração grato atentavam à palavra pregada. Os que creram foram zelosos em comunicar a mensagem evangélica a outros, e assim "a Palavra do Senhor se divulgava por toda aquela província". Atos 13:44-49.

Séculos antes, a pena da inspiração tinha traçado esta colheita de gentios; mas aquelas previsões proféticas tinham sido apenas obscuramente entendidas. Oséias havia dito: "Todavia o número dos filhos de Israel será como a areia do mar, que não pode medir-se nem contar-se; e acontecerá que no lugar onde se lhes dizia: Vós não sois Meu povo, se lhes dirá: Vós sois filhos do Deus vivo." Osé. 1:10. E outra vez: "E semeá-la-ei para Mim na terra, e compadecer-Me-ei de Lo-Ruama; e a Lo-Ami direi: Tu és Meu povo; e ele dirá: Tu és o meu Deus!" Osé. 2:23. O próprio Salvador, durante o Seu ministério terrestre, predisse a disseminação do evangelho entre os gentios. Na parábola da vinha Ele declarou aos impenitentes judeus: "O reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que dê os seus frutos." Mat. 21:43. E depois de Sua ressurreição Ele comissionou os discípulos para irem "por todo o mundo" (Mat. 28:19), a ensinar "todas as nações". Não deviam deixar de advertir a ninguém, mas deviam pregar "o evangelho a toda a criatura". Mar. 16:15.

Voltando-se para os gentios em Antioquia da Pisídia, Paulo e Barnabé não deixaram de trabalhar pelos judeus de outras partes, onde quer que a oportunidade lhes deparasse ouvintes. Posteriormente, em Tessalônica, em

Pág. 175

Corinto, em Éfeso e em outros importantes centros, Paulo e seus companheiros de trabalho pregaram o evangelho tanto a judeus como a gentios. Mas suas maiores energias eram daí por diante dirigidas no sentido de estabelecer o reino de Deus em território gentílico, entre povos que tinham pouco ou nenhum conhecimento do verdadeiro Deus e de Seu Filho.

O coração de Paulo e seus associados no trabalho estava aberto em benefício dos que estavam "sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos aos concertos da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo". Efés. 2:12. Mediante a incansável ministração dos apóstolos aos gentios, os "estrangeiros e forasteiros", os "que antes estáveis longe", aprenderam que "pelo sangue de Cristo", chegaram perto, e que pela fé em Seu sacrifício expiatório, podiam tornar-se "concidadãos dos santos, e da família de Deus". Efés. 2:13 e 19.

Avançando pela fé, Paulo trabalhou sem cessar pela edificação do reino de Deus entre os que tinham sido negligenciados pelos mestres de Israel. Exaltava constantemente a Cristo Jesus como o "Rei dos reis, e Senhor dos senhores" (I Tim. 6:15), e exortava os crentes a permanecerem "arraigados e sobreedificados nEle, e confirmados na fé". Col. 2:7.

Para os que crêem, Cristo é o firme Fundamento. Sobre esta Pedra viva podem edificar igualmente judeus e gentios. Ela é suficientemente grande para todos, e forte bastante para sustentar o peso e o fardo de todo o mundo. Este é um fato plenamente reconhecido pelo próprio

Pág. 176

Paulo. Nos dias finais de seu ministério, quando, dirigindo-se a um grupo de crentes gentios que tinham permanecido firmes em seu amor pela verdade do evangelho, o apóstolo escreve: "Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal Pedra da esquina." Efés. 2:20.

Como a mensagem do evangelho se espalhasse na Pisídia, judeus incrédulos de Antioquia, em seu cego preconceito, "incitaram algumas mulheres religiosas e honestas, e os principais da cidade, e levantaram perseguição contra Paulo e Barnabé, e os lançaram" (Atos 13:50) fora daquele distrito.

Os apóstolos não ficaram desencorajados por este tratamento; lembraram-se das palavras de seu Mestre: "Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo, disserem todo o mal contra vós por Minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos Céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós." Mat. 5:11 e 12.

A mensagem do evangelho estava avançando, e os apóstolos tinham todo o motivo de sentir-se encorajados. Suas atividades entre os de Antioquia da Pisídia, tinham sido ricamente abençoadas, e os crentes a quem tinham deixado a conduzir a obra sozinhos por algum tempo, "estavam cheios de alegria e do Espírito Santo". Atos 13:52.

Disponível também pela CPB